O Moto Z3 Play é um smartphone intermediário, ou como alguns preferem, intermediário "premium", que atende a todos os requisitos que espero de um dispositivo nesta faixa. Embora possa não agradar a uma parcela do público, especialmente as que esperavam grande evolução da linha Z, na minha opinião é uma boa opção de aparelho que segue as principais tendências atuais. Além disso é uma opção de Android "quase" puro, que pode ser um ponto decisivo na escolha.
Design
Uma coisa que sempre me incomodou na linha Z era o sensor de digitais frontal, parecendo o botão iniciar, e ocupando um espaço imenso na parte de baixo. Bom, esse problema foi resolvido brilhantemente na minha opinião, ao colocar o sensor na lateral. Várias pessoas na Web reclamaram que o sensor não é também o botão de ligar, que foi para o outro lado. Mas como ele funciona mesmo com a tela desligada, ele pode ser acionado rapidamente com um único toque para destravar o aparelho. Cadastrei o polegar direito e o indicador esquerdo, e os dois funcionam perfeitamente. Como a área do sensor é menor, temia que pudesse ser menos preciso. Mas no uso diário, tanto o reconhecimento positivo como o teste negativo, passando outros dedos não cadastrados, ele funciona tão bem ou melhor outros sensores frontais como o do Galaxy S7. A meu ver o sensor do Z3 play está na posição ideal, melhor até que atrás (o que seria inviável na linha Z por causa dos snaps).
A posição mais natural para alcançar o sensor é com a mão direita, pois o polegar naturalmente vai para aquela posição, inconscientemente, e levei pouco mais de um dia para transformar isso em um ato natural. Você não pensa em desbloquear, apenas segura para usar e ele desbloqueia. O desbloqueio com a mão esquerda é ligeiramente menos natural, mas ainda assim mais pratico do seria se localizado na frente e embaixo, como no Galaxy S7, em que você tem que mudar totalmente a posição na mão para conseguir posicionar a digital, deslizando o celular para cima, momento no qual ele fica menos seguro. A não ser que se use duas mãos na operação, mas nesta comparação estou considerando uso com uma mão só. No botão lateral não é preciso sequer alterar a posição do aparelho na mão.
A pegada do Z3 é boa, e não considerei escorregadia, mesmo usando sem capa ou snap. O tamanho mais largo ajuda a encaixar na mão, e as bordas de metal pintadas fornecem alguma aderência. Não são de alumino anodizado exposto, como no Galaxy S7, que gruda menos na palma da mão. O S7 sem capa é muito mais escorregadio que o Z3 play e no dia a dia, apesar de mais bonito, é péssimo de se usar, ao passo que tenho usado o Z3 play puro sem problemas nesse aspecto. Obviamente os dois terão mais aderência se usados com uma capa que ajude nisso, o que na realidade é recomendável, como veremos a seguir.
A temperatura no toque indicam que o corpo é de metal, mas as bordas são pintadas de uma tinta metálica. A traseira é de vidro. O Z3 Play é disponível em apenas duas cores, mas cada uma associada a uma versão diferente de RAM/armazenamento. A versão em análise é a de 4 GB/64GB, que é indigo bem escuro, quase preto. A de 6GB/128GB é "onyx" (preto). Felizmente esta cor única é bem discreta e agradável, pelo menos para mim. Acho que houve algum corte de custos aqui ao não oferecer mais algumas opções. A traseira de vidro sempre levanta os mesmos comentários sobre marcas de dedos... mas isso é característica desses acabamentos em vidro, não considero um ponto relevante de nota. O vidro dá uma aparência muito mais sofisticada e bonita que plastico, além de arranhar menos. Muitos sentem falta do metal da geração anterior. Mas no final das contas, é um aparelho que frequentemente será usado com um snap ou uma capa, o que vai esconder a traseira. Importante notar que na caixa do produto não vem nenhum daqueles snaps só de acabamento (style shells), que teria que ser solicitado a parte. Outro corte de custos, este acessório completa o design e ameniza a protuberância da câmera, e portanto deveria vir incluso. Entrei no site oficial e só encontrei apenas 4 opções, sendo a que a de bambu a que me pareceu mais interessante, seguida por uma de tecido com padrões em cinza. Há poucas opções, o que demonstra certa decadência da proposta de modularidade da linha Z.
Como dizia, geralmente o usuário vai optar por uma capa, pois a aparência em geral é de fragilidade. Não sou de deixar o celular cair e já tive outros aparelhos com traseira de vidro, como o Nexus 4, que não tiveram problemas. Mas pelo tamanho da superfície e finura, a impressão é que ele não resistirá à primeira queda. Por precaução já encomendei uma capa na Amazon com proteção lateral emborrachada e traseira para o desnível (vulgo calombo) da câmera. Esse calombo por sinal dispensa maiores comentários, pois ele faz parte do projeto da linha Z e não pode ser removido do projeto sem perder a compatibilidade com os snaps. Uma capa deste tipo, com "bumper", também torna o aparelho mais aderente na mão e em cima de superfícies, e previne quedas. Caso se use um snap, que é o conceito original do Moto Z, será preciso dispensar esta proteção adicional da borda de uma capa tradicional. Além disso, cabe notar que não há certificação IP68 a água e poeira, isso sim um ponto realmente negativo com relação à durabilidade.
Finalmente, sobre a modularidade do Moto Z, a impressão é que ela está acabando. Como disse, poucas opções de style shells, e também pouca variedade de snaps para outras funções. A maioria me parece de uso muito específico e caros demais. Eu não teria muito uso para um projetor, e se quisesse altos falantes poderia comprar uma caixa de som bluetooth, sendo que praticamente só uso smartphone com fones, e em casa conecto no som com chromecast. O custo de um módulo é relativamente alto, e desconfio que poucos consumidores do Moto Z acabam por investir mais neles. Eu teria interesse no módulo power pack simples, mas ele não está mais disponível por aqui (lá fora ele vem no pacote do Z3 play), apenas o powerpack+TV digital, que é mais caro. Depois de 3 gerações, parece que a linha Z dá sinais de desgaste. A conclusão é que desde o conceito original de modularidade do Google (projeto Ara), passando pela versão da LG, e a da Motorola, nenhuma modularização de smartphone ainda foi um sucesso inquestionável. Mas o que mais se aproximou disso foi justamente o Moto Z...
Ainda sobre o projeto, não há conexão de fone comum (P2 stereo+microfone) e a USB é do tipo C. Começando pela USB C, é o novo padrão, e é muito bom não se preocupar qual o lado certo conector. Sobre o fone, na minha opinião não é um problema grave, até porque cada vez mais tenho usado fones Bluetooth. Caso se use um fone com cabo e o adaptador P2-USB, existe o inconveniente de não poder carregar ao mesmo tempo, e basicamente só isso. Acho que a remoção do P2, por mais que ele seja um conforto, é uma tendência motivada por compromissos de engenharia. As pessoas comentam que haveria espaço na borda do Z3 para o fone, mas não é só o espaço usado na lateral do celular, lembre-se que existe o volume interno ocupado pelo conector. Como o painel da tela ocupa a superfície quase toda, existe menos espaço por baixo. Eu prefiro mais tela. Minha previsão é: esperem cada vez menos conectores dedicados de fone no celulares mais top.
Apesar da questão da aparente fragilidade, de um modo geral o projeto, design visual e impressão de qualidade de construção são muito boas.
Resultado: Positivo.
Tela
A tela é um dos pontos altos do Z3 Play, um painel amoled de 6", 1080x2160, de cores vibrantes e bem definidas. O tamanho maior é uma tendência nas principais marcas. Tenho bastante experiência anterior com telas grandes, desde o Nokia 1320, que naquela época parecia estranho, mas as vantagens de uma tela maior sempre foram evidentes. As telas maiores não são apenas moda, as pessoas querem uma área de visão maior, contendo mais informação, mais detalhes. É mais confortável para ler, é mais agradável para consumir vídeo e jogar. Infelizmente isso também vem com o inconveniente do tamanho maior pra se carregar o tempo todo... Sim o paradoxo é que o tamanho é ao mesmo tempo um benefício e um problema. Felizmente as coisas evoluíram desde aquele Nokia 1320, e as telas atualmente aproveitam mais a superfície do dispositivo, que por isso pode ter um tamanho total menor. Como mencionei no item anterior, finalmente a Motorola tirou o sensor de digital da parte frontal, sobrando mais espaço para a tela.
Sobre a tela cito ainda dois pontos positivos. O primeiro é que existe uma pequena distância nas laterais entre a borda e a tela, e embora isso signifique menor razão tela/superfície, por outro lado impede tantos toques acidentais irritantes, como no Galaxy S7. A não ser que houvesse uma mudança na interface de usuário dos smartphones Android, acho que deve haver sempre uma pequena distância "morta" nas laterais da tela, para prevenir toques acidentais. Ou seja, esse ideal de celular com tela de 100% da área frontal, sem bordas, que se tenta vender como uma maravinha, na realidade é um problema. O segundo é que o Z3 não tem o famigerado notch. Aí é uma questão de gosto, eu acho um ponto altamente positivo a ausência do notch, este sim um modismo que deve ser passageiro, eu espero. O espaço ocupado pela câmera e alto falante no topo do celular é muito pequeno, o notch é desnecessário.
Resultado: Positivo.
Software
Aqui temos um diferencial importante do Z3 play, na realidade, da Motorola, mas que tem no Z3 play atualmente um dos seus melhores exemplares. A Motorola praticamente não faz alterações na experiência de usuário do Android, e a mudanças pontuais quase sempre são positivas. O ideal seria o Android One, mas infelizmente não disponível oficialmente no Brasil por nenhuma fabricante. A versão que vem instalada é a 8.1, Oreo, com previsão para o Android 9.
Venho usando a interface de usuário da Samsung por um ano e meio, que por sinal sofreu atualização no Galaxy S7 recentemente, e embora tenha me acostumado a verdade é que ainda considero a interface da Google superior. A Samgung investe muito dinheiro para customizar o Android para no final terminar com um produto piorado. Contribui para essa impressão ruim desde as escolhas de ícones padrão (que sim, podem ser alterados do app de temas, mas em geral com tanta escolha não se acha ícones tão bons quanto os padrões do Android, é uma perda de tempo ficar escolhendo temas e boa parte disso é pago), até a inclusão de muito software pré-instalado (notadamente da Microsoft), o chamado bloatware. Escolhas estranhas como trocar a tela de cards da Google, o painel mais à direita do desktop, pelo Flipboard. E nos modelos mais novos, o assistente Bixby, que eu nunca usei mas vejo muita gente reclamando. O que eu gostaria é de um hardware de qualidade como o que a Samsung faz, mas sem essas tralhas de software. Eu até entendo porque eles customizam tanto, é um esforço de diferenciar e agregar valor aos produtos e à marca. No entanto a Samsung é uma empresa excelente em hardware, na área de software eles no momento estão muito atrás de Google, Apple ou mesmo Microsoft. É como se a Samsumg pegasse um iPhone e mudasse a interface do sistema toda para melhorar. Dificilmente conseguiria, pelo menos no estágio atual em que está em software e no foco da empresa hoje.
A solução mais rápida aqui no Brasil para uma experiencia próxima ao Android puro é partir para a Motorola. O ultimo dispositivo deles que usei foi o Moto X2 Play, e comparando como Z3 vi melhorias: rotação do desktop, possibilidade de remoção do widget de busca do Google (ocupa muito espaço e pode ser acionado de outras formas), a barrinha de navegação substituindo os botões Android, entre outros. A mais interessante sem dúvida é a barrinha, que libera bastante espaço de tela e dá uma impressão mais limpa, além de ser prática e intuitiva. Essa barrinha pelo que pesquisei não faz parte do Android puro, mas é um exemplo de melhoria positiva.
A Motorola entrega um sistema praticamente limpo e apenas com as funções essenciais. Como exceções, existem dois apps da Motorola que eu classificaria como bloatware, o "app Box" e o "Loja Moto Z", que são totalmente desnecessários, este último apenas abre um site. Mas pelo menos não vem nenhum jogo ruim e nem os aplicativos da Microsoft.
Além disso pesa a tradição da Motorola de atualizar o sistema mais rápido e mais vezes. Outro benefício é a compra do sistema sem modificação de operadora. Não sei se existe versão customizada, a que comprei é sem marca de operadora. Embora configurando dê pra tirar vestígios visuais de operadora, eu acho meio pobre dar boot num S7 e ver a tela da Vivo. Um benefício adicional de comprar um intermediário como o Z3 Play é que, pelo preço menor que um flagship, não ficar tão tentado a obter o celular com subsidio de operadora.
Resultado: Positivo.
Desempenho
O Z3 Play vem equipado com um processador Snapdragon 636 intermediário e 4 ou 6 GB de RAM que garantem fluidez no uso normal de navegação e consumo de videos. Para jogos ele fica no limite e deixa a desejar. Vi alguns videos de pessoas jogando PUBG com qualidade razoável, mas não excelente. O único jogo que testei foi o Hearthstone, que foi jogável, mas apresentou algumas travadinhas. Como não é um jogo de ação até passa. Comparando, o Galaxy S7 bem mais antigo mas com processador top se sai muito melhor no mesmo Hearthstone, sem nenhum travamento. O Moto Z3 Play, apesar do nome, não é um smartphone que eu recomendaria para quem gosta de jogar (no smartphone). No momento ele até aguenta, mas logo surgirão títulos mais pesados.
A capacidade de processamento, mais do que qualquer outro item, posiciona o Z3 play definitivamente da categoria intermediária. Mas isso não é um defeito e sim uma opção de segmentação de mercado.
Resultado: Neutro.
Bateria
A bateria de 3000 mAH tem que levar uma tela de 6" e toda a carga de processamento e transmissão de dados crescentes que as aplicações demandam. No meu teste de uso por mais de uma semana, com padrão de uso intenso e consultas frequentes ao aparelho, vendo videos e lendo, a bateria está dando com folga para um dia de uso. Carrego de manha, pois graças ao "turbo power" não preciso deixar a noite toda, e ao chegar em casa ainda tem carga para colocar streaming no chromecast na TV. Só que o aparelho está novo, não sei como será com 6 meses de uso. Acho que a bateria poderia ser maior, 3200 mAH por exemplo, mesmo ao custo de alguns milimetros de.espessura. Existe o snap de bateria (agora só com TV incluída), atualmente por R$ 499,00, o que pode amenizar o problema, só que aumentando o custo total e ainda aumentando muito a espessura do aparelho. Não tenho como julgar definitivamente no momento, mas a capacidade não parece ser acima da média. Não existe suporte a carregamento sem fio, o que afeta pouquíssimos usuários.
Resultado: Neutro.
Câmeras
Câmera traseira dupla de 12 e 5 MP segue uma tendência atual. Pessoalmente não sou tão exigente com câmera, sendo que minha avaliação é que ela sobra para minha necessidade. Tirei fotos externas e internas e não percebi um problema de estabilização de fotos em movimento que tive em outro aparelho da Motorola, o Moto X2 Play. A câmera frontal para selfies e chamadas de vídeo é de de 8 MP.
Resultado: Neutro.
Prós
- Design
- Posição do sensor de digitais
- Tamanho e aproveitamento da tela
- Software: experiencia do Android puro (embora não seja); versão atual (8.1); melhorias da Motorola são positivas; praticamente sem bloatware
( -compatibilidade com módulos moto snaps, apenas se acredita ainda neste padrão ou se já possui algum módulo )
Contras
- Bateria poderia ser melhor
- Performance de smartphone intermediário
- Fragilidade, sem resistência padrão IP68
Porque comprar ou não comprar
O aparelho não tem nenhum ponto realmente negativo. As falhas são subjetivas, vai depender do tipo de uso e expectativas de cada usuário.
Compre se procura um celular com a experiência próxima ao Android puro, com melhorias apenas pontuais. Procurando no mercado, a Motorola é uma das poucas que disponibilizam esta interface no Brasil atualmente. O último celular da Google que veio para o Brasil oficialmente foi o Nexus 4. Lá fora além da própria Google com os Pixel temos a Nokia vendendo Android One, entre outros. Por aqui o jeito de fugir das customizações de fabricantes é ir para as versões quase não customizadas.
Olhando a linha completa da Motorola, o Z3 ficaria imediatamente acima do G6 plus, que tem tela LCD. A tela amoled para mim virou um requisito básico. A diferença de preço é significativa, em torno de 500,00 hoje, mas se esta diferença não for um problema, ela pode ser compensada pelo design, a tela amoled, processador ligeiramente melhor (Snapdragon 636 versus o 630 no G6 plus), software ligeiramente mais atualizado, compatibilidade com snaps, etc. Os outros na linha Z vendidos atualmente são o Z2 e o Z2 Force, que estão uma geração atrás e já seriam do segmento top (com snapdragon da série 800 e outra faixa de preço). Para quem não precisa desta performance adicional, o Z3 é uma boa opção.
Não compre se quer jogos com qualidade gráfica e renderização 3D ou uma câmera topo de linha ou duração excepcional da bateria ou um dispositivo resistente a choques, água e poeira. Ou seja, já em outro patamar de mercado.
Especificações:
https://www.gsmarena.com/motorola_moto_z3_play-9003.php