A décima geração de processadores Core acaba de ser lançada, e já manifestei minha decepção em redes sociais. Não que toda a linha seja ruim. Se eu estivesse montando um PC neste momento, o que felizmente não estou, eu consideraria alguns modelos da faixa intermediária, um Core i5, por exemplo. Mas de um modo geral, como entusiasta de tecnologia, é uma decepção. 14 nm, ainda? Basicamente a mesma tecnologia do meu Core i7 6700K? Sim, com alguns melhoramentos, mais núcleos... mas é pouco. E o topo de linha, o i9 10900K, é uma aberração em excessos de consumo e dissipação térmica. Não encontro justificativa para optar por ele, o que não significa que não exista, mas não encontro, pelo menos para usuários típicos. O 10900K pode ser, dentro de certas circunstâncias, o melhor, mas a que preço? Em consumo de energia? Em custo total, não só dele, mas em todos os demais componentes de PC para mantê-lo frio e funcionando bem? Neste exato momento fica difícil defender a Intel, e parece que ela está perdida para sempre. Mas um pouco de perspectiva histórica mostra que não é a primeira vez, e nem provavelmente será a ultima. Veja alguns exemplos.
Lá em 2004/5 eu me propus a montar um PC bom. Geralmente eu sempre ia no custo-beneficio, mas desta vez resolvi "investir" em algo com performance alta, que desse satisfação. Mas não fiz um trabalho tão bom de pesquisa. Optei por um Pentium 4 de arquitetura "Prescott", o primeiro com o design LGA, o LGA 775, . Ele também tinha Hyper-Threading, um core, dois threads, meu primeiro processador multi-threaded. E o Pentium prometia alto clock. Em teoria, e pelo marketing, parecia tudo ótimo. Na pratica: aquecimento e throtling. E com as ferramentas disponíveis na época, simplesmente não consegui resolver o problema de aquecimento. Não lembro se já havia water cooling em 2004, mas não devia ser algo muito acessível, eu nem considerei uma opção. Coloquei o melhor cooler a ar que encontrei (ironicamente esse P4 vinha com cooler box!), um dos melhores gabinetes do mercado na época para resfriamento, segundo reviews e minha própria experiência. Não pensava muito em cable management nesses tempos, mas ainda assim, creio que isso não foi um fator determinante. Eu lutei com o conhecimento e recursos que eu tinha, e não consegui evitar o throtling. Se não me engano, havia programa da própria Intel que permitia visualizar que estava ocorrendo. Enfim, depois de um tempo desisti. Fiquei com este PC relativamente muito pouco tempo, uns 6 meses, menos de um ano, e o vendi. A máquina funcionava, só que não da forma que eu imaginei quando comprei, não supriu minha expectativa.
Minha opinião naquele momento, após toda esta frustração e de me informar melhor, é que a Intel havia chegado a um beco sem saída evolucionário. Era o fim. A arquitetura deles estava saturada. E passei a comprar AMD. Um tempo depois a Intel tira a arquitetura Core da manga. Começou humilde, até chegar ao Skylake, que era rei em 2015/16, a sexta geração. A seguinte, a sétima, já mostrou sinais de desgaste. Foi nessa que a prática do delid ficou popular, porque o 7700K aquecia demais, e era preciso trocar a pasta térmica interna entre o heat spreader e o die. Ou se conformar com a performance limitada pelo aquecimento. Mas ainda era competitiva e dominava alguns segmentos de mercado. A Intel continuou se apoiando em alguma vantagem de performance e sua reputação, mas já sabíamos há anos que mais uma vez sua arquitetura estava saturada. Deu pra perceber o ciclo? Levou mais ou menos uma década.
Mas vamos voltar um pouco. Como disse antes, depois do P4 Prescott passei a comprar AMD. Foram vários. Lá por 2012 mais ou menos eu adquiri um AMD FX 8350. Era naquele momento o topo de linha da AMD, pelo menos entre o que estava disponível no mercado. E na realidade, o topo de linha oficial, que foi o FX 9050, era meio bizarro, uma espécie de 8350 overclocado de fábrica, super quente. Que nisso até lembra esse i9 de décima geração, só que além disso também tinha performance limitada, ao contrário do i9. Mas em comum eles eram o fim da linha evolutiva. Os FX tinham vários problemas de projeto, e por isso ele envelheceu mal. Em 2012 quando comprei era aceitável, mas em 2015 era lixo. A compra desse FX não foi tão errada quando ao daquele Pentium 4 citado acima, tanto que ainda tenho ele funcionado até hoje. E não foi caro. Mas também não foi a melhor opção, tendo em vista qualidade e longevidade. Eu perdi o timing de pular da AMD para a Intel. E parecia o fim da AMD. Até que uns anos depois surge o Ryzen, no começo com alguns problemas (compatibilidade de memórias, IPC baixo, etc), mas promissor. Até chegar na terceira geração, os 3000, que são um sucesso quase unânime. O ciclo da AMD.
Tomando por estes dois exemplos extremos parece que só compro processador ruim, mas entre estas compras existe uma maioria de processadores ótimos, ou aceitáveis. Estes dois são apenas exemplos de finais de ciclos de liderança tecnológica de cada empresa. Monto PC desde 1987, comecei com um clone de PC-XT, com um clone de processador Intel 8088 fabricado pela... Nec (é isso mesmo, o NEC V-20. Com botão turbo no gabinete pra chegar a... 10 MHz. Atenção, MEGA Hertz. O stock era 4,7 Mhz, se não me engano). E assim que a AMD entrou no jogo, esse padrão descrito antes vai se repetindo por décadas, com a Intel e AMD se revezando na liderança do mercado x86, ou algum aspecto dele, uma nova tecnologia, ou mais performance. A Intel introduziu instruções MMX, a AMD introduziu 64 bits no mercado mainstream. Nada disso foi suficiente para uma vantagem definitiva. Olhe para o passado e vai identificar vários ciclos. Não tenho bola de cristal, não prevejo o futuro, mas nada indica que esses ciclos vão parar. Se em algum momento os ciclos parassem, com uma empresa fazendo sempre produtos inferiores, uma dominaria de vez e a outra sairia do mercado de processadores para PC.
A briga agora parece perdida para a Intel. Ela está se esforçando pra entregar 10 nm, enquanto que a AMD está em 7 nm e não pára de evoluir. A AMD fornece processador e chipset para as duas linhas principais de consoles, xBOX e PS4/5. A Apple ensaia abandonar os chips Intel no Mac de vez em favor de chip próprio baseado em ARM. O mercado mobile foi perdido para a ARM. O que a Intel pode fazer pra reverter essas perdas? Talvez nada, talvez desistam de PC. Ou talvez venha mais um ciclo, com a Intel entrando com alguma inovação que não esperamos. No cenário da Intel desistir do PC, que eu particularmente acho bem improvável, a AMD domina o mercado x86, e se acomoda. E nós consumidores teremos cada vez menos evolução, e preços cada vez maiores. Diante disso, é insano consumidores torcerem pela hegemonia de uma marca, por um vencedor definitivo. Precisamos das duas (ou mais) empresas para que a evolução, mesmo com seus altos e baixos, seus ciclos, para termos custo acessível e produtos melhores. E se um deles vencesse e dominasse o mercado, também ficaria exposto a processo por monopolio. Ou seja, no fundo uma precisa da outra, e nós PC builders precisamos das duas,
quinta-feira, 21 de maio de 2020
Processadores AMD x Intel: porque não existem vencedores definitivos
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