Venho acumulando ao longo dos anos muitos casos de equívocos da midia especializada em tecnologia, o que só veio aumentando meu descrédito por ela. Especialmente os meios mais tradicionais, revistas e jornais. O problema é mais visível quando se pega uma publicação antiga, e se analisa o que está ali à luz do conhecimento atual. Um exemplo concreto: estou na luta para reduzir a quantidade de papel aqui em casa. Não pretendo acabar com todo o papel, apenas com a parte dele que é supérflua. Meu alvo atual são as revistas que acabei acumulando ao longo dos anos, a maioria de TI. Por acaso e curiosidade resolvi folhear uma delas antes de mandá-la para o lixo. Era um exemplar de meados de 2008 de uma revista de grande circulação "especializada" em tecnologia. Sem citar nomes... [Update: Em resposta ao que alguns conhecidos meus comentaram: Meu primeiro ímpeto foi citar a edição da revista em que ocorrem os fatos descritos abaixo. Por dois motivos, primeiro como reação pessoal à minha decepção como leitor, leia-se vingança, e depois para dar mais veracidade ao meu argumento. Mas logo ponderei que isso não contribui em nada, uma vez que não é meu objetivo atacar uma revista específica, essa situação é genérica. Afirmo novamente que se trata de um fato concreto, mas quem não acreditar, pode considerar um exemplo ficcional que dá na mesma! Se depois for procurar vai achar dezenas de exemplos reais parecidos! Aviso: qualquer semelhança com a realidade NÃO É mera coincidência].
Dois artigos me chamaram muito a atenção nesta revista. Num deles um articulista internacional de TI, desses que escreve em dezenas de revistas pelo mundo todo, descreve a computação em nuvem como uma tolice completa. Ele não analisa prós e contras, apenas contras, citando situações imaginárias (cobranças abusivas, chantagens), e terminando com a conclusão de que a cloud computing "não é mais rápida, confiável e segura que micros (sic) isolados". Esta é uma afirmação leviana de se fazer, mesmo em 2008. Nem faz tanto tempo! Ainda mais para um profissional que se propõe a analisar tendências macro. Todo mundo pode ter uma opinião, mas que deveria ser mais embasada do que "não gosto disso". Além do mais, PCs isolados são tudo menos confiáveis. São uma fonte de caos e dores de cabeça ...
Resultado, 4 anos depois a computação em nuvem vai bem obrigado, não é a solução para todos os males da humanidade, mas a tendência é crescer. O ponto aqui é que o leitor em 2008 poderia ser levado a acreditar no artigo, e se tivesse que tomar alguma decisão de compra ou investimento influenciado por ele, seria a errada: comprar mais "micros isolados". Um tomador de decisão corporativo deveria ter capacidade de crítica e não se deixar levar por textos desse nível, mas se o artigo não tem nenhum conteúdo útil, se está ali pedindo para ser rebatido e descartado, porque perder o tempo de lê-lo?
O outro exemplo neste mesmo número é um review de uma página comemorando o lançamento do Nokia N95. O artigo até chega a citar o iPhone no início ("todo mundo só fala dele"), mas em seguida continua que o N95 é "um smartphone de primeirissima categoria que acaba de receber um upgrade" (por isso que eu disse "comemorando", pra não falar do "arsenal de recursos do N95 8Gb é notavel", e por aí vai...). Usava Symbian. Na realidade, o Symbian era o sistema mais usado naqueles tempos, só que no fundo ele já estava morto. Não era preciso prever o futuro para dizer isso, bastava analisar o sistema lado a lado com o iOS (naqueles anos, até Blackberry era uma opção melhor). Todos os elementos para esta análise já existiam em 2008. O contra-argumento usual é que a função da revista é informar sobre lançamentos de produtos e deixar o usuário escolher. Mas na minha visão, é muito mais relevante orientar os leitores sobre a melhor forma de empregar seus recursos. Listagem de especificações se consegue em milhões de sites na Web, de graça. E naquele momento, se não existia Android, e iPhone era a melhor opção de smartphone, e Symbian era um beco sem saída. Isso não é dito em lugar nenhum do artigo, nem mesmo como uma ressalva. Podia ter o mesmo review, mas com umas linhas dizendo algo como: "diante de sistemas mais modernos como o iOS, o N95/Sysmbian tende a perder espaço". Mas nada... Se todo mundo só falava do iPhone, era de se desconfiar que tinha algum motivo...
Para ser justo, este mesmo número da revista tinha um outro artigo sobre iPhone. Mas eu estou analisando o espaço do review do N95. O fato dele existir na revista e não ter a ressalva que falei já contém uma informação subliminar. Daí se conclui também que um meio de comunicação de massa, isso vale também para TV, rádio e etc, não precisa contar nenhuma mentira para desinformar. Basta que omita pequenas partes da informação que seriam relevantes para que o consumidor tire a melhor conclusão. E isso acontece o tempo todo, já que estes veículos são limitados por natureza, é preciso escolher o que entra em cada edição. No caso do radio e da TV, pelo tempo. No caso de revistas e jornais, o número de folhas, o tamanho de uma página. Então de certa forma, é plenamente justificável a escolha de que matéria entra ou não. Não dá pra por tudo, e falar tudo. Mas o critério de escolha é que está em jogo. No review não tinha nenhuma mentira, mas se tivesse algumas linhas de ressalva, mudaria totalmente o sentido da informação. Do jeito que saiu, foi pouco mais que uma propaganda.
Minha conclusão sobre isso é que esta revista não me orientou corretamente sobre o que comprar ou investir nos 4 anos seguintes. Por sorte não comprei um N95, e sim um Android, quando lançaram o Motorola Dext apenas um ano depois. E venho usando e recomendando nuvem desde aquela época, quando se aplica. A pergunta que fica é se uma revista, ou mesmo um veículo de informações de TI online, serve apenas para mostrar o que existe agora, ou para dar dicas sobre o que fazer agora tendo em vista o futuro. Porque a maior parte das coisas que escolhemos e compramos hoje é para ser usada por anos, e a escolha de uma plataforma (por exemplo, um SO) por mais tempo ainda, pois ela passa por vários equipamentos físicos, enquanto o investimento nela é preservado (conhecimento, aplicativos, etc), se ela durar, é claro. Em 3 anos já estou no terceiro aparelho Android, mas o conhecimento, os apps e os dados na nuvem do Google (agenda, contatos, emails, documentos) são os mesmos!
Como disse, não é a primeira vez que percebo essa baixa qualidade de informação em revistas. Também ninguém precisa ficar com medo de folhear uma revista e sair fazendo loucuras e gastando o seu dinheiro suado em bobagens, mas é bom ter um pé atrás sempre. Nisso, as informações obtidas pela web (não só blogs, mas também foruns, redes sociais, sites, qualquer coisa) podem acabar sendo mais úteis. Porque a tendência a confiar em um profissional de um veículo grande e tradicional é maior. Num site qualquer a tendência é justamente a oposta, desconfiar. E da comparação de várias opiniões e argumentos, da análise das razões por trás de cada um deles, acaba saindo um cenário muito mais completo e útil. Recomento começar a comparar as opiniões de especialistas publicadas nos veículos tradicionais com a torrente de posts da Web sobre qualquer assunto de TI. O resultado é surpreendente.
quarta-feira, 19 de setembro de 2012
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