A falta de processadores Intel mainstream, especialmente os de sétima geração como o Core i7 8700K e outros semelhantes, muito usados para montagem de PCs domésticos para jogos, explicitou uma realidade da produção dos componentes eletrônicos que normalmente passa despercebida para os consumidores. Desde o início dessa "crise" a Intel relatou apenas dificuldade de atendimento da demanda, devido ao aumento do mercado gamer e do setor de servidores. O aumento da computação em nuvem é um tendência forte que não deve arrefecer tão cedo. A Intel é uma empresa enorme, e uma das poucas marcas de semicondutores que mantem fábricas próprias. Ainda assim sua capacidade de produção não é infinita. Com isso da Intel é obrigada a tomar decisões comerciais difíceis, priorizando o que gera mais lucro, neste caso, as linhas de processadores para servidores e workstations. O valor unitário destes chips é muito superior ao de um processador mainstream. E um efeito até previsível é que o valor de mercado destes últimos também aumenta, pelas leis de mercado, pelo aumento da demanda.
Esta notícia se liga a outro dado, a de que o mercado de infraestrutura como um todo no Brasil está em expansão, demandando entre outras coisas, mais servidores, e mais processadores para eles. E muito provavelmente, não apenas aqui no Brasil, segundo o relato da própria Intel. Os serviços em nuvem, de compartilhamento, redes sociais, streaming e etc. visivelmente ocupam cada vez mais espaço na nossa realidade tecnológica, no mundo todo.
Não é a primeira vez que vemos algo assim, no ultimo ano tivemos falta de placas de vídeo e aumento do preço delas por causa da febre da mineração de criptomoedas. Embora neste caso a produção das GPUs seja toda terceirizada pela AMD e nVidia, mesmo assim a capacidade de produção destas parceiras também é limitado, e não consegue atender a qualquer aumento instantâneo de demanda. O pico de consumo passou e os preços foram se normalizando ao longo dos meses, e tudo indica que ocorrerá da mesma forma para as CPUs Intel. O mais interessante aqui é perceber como todas estas empresas, as projetistas, as fabricas de chips, as fábricas de placas, as integradoras de PCs, as lojas e o mercado consumidor estão conectados. E além dessa cadeia contínua do chip até o PC doméstico, os serviços na Internet e na nuvem também são outra fonte de demanda de semicondutores, em ultima análise, para suprir a este mesmo consumidor final de serviços.
A falta e aumento de preço de processadores Intel é uma notícia ruim para quem quer comprar um PC, mas fora o inconveniente imediato, tem alguns aspectos positivos. Primeiro que estamos falando de aumento de demanda, e não de diminuição de produção, desativação de unidades e demissões. Segundo que a Intel lidera com grande margem o mercado de CPUs, e esta crise de oferta pode favorecer a concorrência, mais diretamente a AMD e talvez até ARM no incipiente mercado no segmento de notebooks que usam este chip. O preço da linha equivalente da AMD, o Ryzen 7 e 5, até o momento não sofreu aumento, e é uma alternativa viável para quem não faz questão de marca ou do máximo possível de FPS. Com a AMD mais fortalecida teremos mais concorrência. E por fim a consolidação do mercado de serviços em nuvem pode gerar mais economia de escala e impulsionar toda a rede, demandando melhoria de capacidade de conexão, aumentando a escala e tornando os custos mais acessíveis a todos.
A outra tendência, esta negativa, é de elitização progressiva do segmento "PC gamer", com peças cada vez mais caras. Embora o preço da Intel possa até se estabilizar daqui a um ano como previsto, o que vemos são os fabricantes fazendo upgrades nos topos de linha para consumidor final, como vimos com a nVidia lançando a RTX 2080ti com preço de referência bem maior que a 1080ti. Obviamente ninguém é obrigado a comprar exatamente este modelo mais caro, ainda assim ele estabelece um aumento do custo máximo de um PC deste segmento, com a melhor performance e qualidade, que tende a ser desejada pelos consumidores e adquirida por alguns daqueles que podem pagar. E pela mesma lógica citada no início, as empresas de alguma forma vão tentar priorizar este tipo de produto, que dá mais lucro. A próxima linha de processadores mainstream Intel deve vir com mais núcleos, alterações de nomenclatura e talvez um valor de referência inicial maior. Com isso tendendo a reduzir a lacuna entre os preços dessa linha e os dos processadores para servidores e workstations, puxando os preços dos topos de linha pra cima.
Fontes:
https://www.hardware.com.br/noticias/2018-09/intel-anuncia-medidas-para-lidar-com-a-alta-na-demanda-por-processadores.html
https://www.hardware.com.br/noticias/2018-10/setores-ligados-a-infraestrutura-de-ti-no-brasil-registram-crescimento-de-41.html
Nenhum comentário :
Postar um comentário