O Google Doogle de hoje para o site britânico (google.co.uk) homenageia São Jorge e faz uma referência sutil (ou nem tão sutil para quem viveu naquela época) ao computador de 8 bits ZX Sprectrum:
Para quem não era nascido ou tinha horror à tecnologia, note as barras coloridas no canto superior direito da imagem, que são o símbolo do ZX Spectrum (ver foto abaixo).
A referência continua pelo uso das cores bem características e da resolução da imagem. E o que isso tem a ver com St. George? Bom, ele é o santo padroeiro da Inglaterra (e do Rio de Janeiro também, motivo pelo qual é feriado aqui no Rio hoje. Será que é feriado lá? :-) ), e o ZX Spetrum foi um marco de grande sucesso dos britânicos na área de informática. Este computador vendeu milhões por vários anos, e era popular no mundo todo, inclusive no Brasil, onde era difícil de chegar legalmente por causa da reserva de mercado, mas tinha "um clone" aqui, o TK 90X. Veja na foto abaixo que copiaram inclusive as faixas coloridas:
Mais do que o sucesso comercial, o que era importante nos micros ZX Spectrum e outros similares eram as características de verdadeira inclusão digital. Eles não eram práticos, não eram muito úteis no dia-a-dia, eram na realidade as vezes bem irritantes. Mas eles expunham facilmente o seu conteúdo, os bits e bytes, a programação. Mais do que uma janelinha de acrílico no gabinete, isso realmente permitia ver como tudo funcionava. Ao ligar a máquina já se caía em um prompt de linguagem de programação, convidando a programar. A linguagem era o Basic e seus terríveis GOTOs, não havia nem como identar código, mas ainda assim era programação no sentido estrito da palavra, e era só um começo. Depois que a pessoa sofre com isso aprende até a dar valor a uma estrutura "while", a um bloco demarcado com { e }, ou begin - end, a poder identar código, poder criar funções e procedimentos ... :-) na realidade, deixar o Basic de lado e aprender o assembly do Z80 era a grande diversão, e o ZX era simples o suficiente para um usuário autodidata programar em assembly, as informações estavam todas facilmente disponíveis.
Pessoalmente meu inicio com TI e programação foi com um clone do ZX, só que não exatamente o Spectrum, e sim o anterior, o ZX 81. Também não exatamente ele, mas um clone melhorado dele, o TK 85, que já vinha com 16 KB (sim é K mesmo!!! Para quem acha pouco, o ZX 81 original vinha com apenas 1 KB) de RAM. Também tinha um teclado de borracha parecido com o do ZX Spectrum, pois o 81 original era menor e tinha um teclado liso, sem teclas físicas (nunca usei, mas era pequeno e parecia horrível). Ver abaixo uma propaganda do TK85, a mesma que eu vi em uma revista e que contribuiu para querer comprá-lo (na realidade, pedir para meu pai...):
Não teria como descrever a nostalgia que sinto ao ver esta foto... Nunca usei pessoalmente um ZX Spetrum (ou TK90X) mas os artigos que saiam em revistas de TI (que eu comprava avidamente, pois não existia Web!) mostravam que era a mesma filosofia do TK85, uma máquina aberta, simples, divertida, e o melhor, extremamente educativa, mas sem parecer um produto didático chato! Quando disse acima que esta é a verdadeira inclusão digital, foi este o sentido. Uma criança que hoje compra um tablet aprende a ser um bom usuário final, mas nada sabe da engenharia por trás das imagens coloridas, dos videos e das páginas de rede social. Ter e usar tablets e samrtphones acaba sendo o lugar comum, o que quase 100% das pessoas saberá, sendo ligadas em tecnologia ou não. Mas até que ponto uma sociedade não precisa motivar as pessoas que vão criar o hardware e os programas? Elas terão que chegar aos 18 anos e prestes a entrar na faculdade para começar a saber do que se trata? E neste momento como vão ter condições de decidir?
O que eu posso dizer é que ganhei o TK aos 16 anos, e aos 18 já sabia o que queria fazer. Também poderia ter detestado, mas trata-se de dar uma opção para as pessoas, não de obrigá-las a algo. E se eu tivesse que agradecer à alguma empresa por ter contribuído para minha carreira, seria a Sinclair, a Microdigital e a HP (que fez uma calculadora programável, a HP 25, que estava quebrada, mas por um dos manuais dela eu li o que seria programação. Devia ter uns 10 a 12 anos, e tive que esperar mais uns 5 anos para botar as mãos numa máquina e ver meu próprio programa funcionando).
O sucesso mundial dos seus computadores, o ZX 81 e ZX Sprectrum, foi suficiente para Sir Clive Sinclair ganhar o título de Sir. Se ganhasse o título de Santo também seria muito justo, pois o que ele fez com alguns componentes eletrônicos para produzir estas máquinas, diante de todas as limitações da época, foi um verdadeiro milagre. E a influencia que elas tiveram por gerações é prova disso.
segunda-feira, 23 de abril de 2012
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