quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Quem ganha no mercado mobile: fabricante de hardware ou o sistemaoperacional?

Palavras chave para esta discussão: "sistema operacional", "fabricante", "ecossistema", "compatibilidade". A motivação: a notícia desta semana que Samsung confirma lançamento de dispositivos com Tizen para 2013. Para quem não acompanhou, o Tizen é descendente do Meego, por sua vez descendente do Maemo 5. Ele é hospedado na Linux Fundation, e patrocinado principalmente pela Samsung. São muitas questões envolvidas nesta notícia. Primeiro, porque a Samsung se daria a este trabalho (e custo), se as vendas com o Android estão boas? Seria por medo de competir em desvantagem com a Google, depois da compra desta da Motorola? Seria pela ambição de construir e dominar seu próprio ecossistema, sua própria loja e sua cloud? Ambição de ser uma nova Apple, controlando o hardware e o sistema de modo integrado? E depois, uma vez lançado, será que este sistema tem chance, num mercado já dominado pelo Android e o iOS?



O pano de fundo para isso é um mercado de sistemas operacionais móveis e fabricantes se embolando em 2013, com diversos sistemas candidatos e lançamentos. Temos o Windows Phone, que já está aí buscando ampliar a sua fatia, e estamos vendo à mais de ano que não está sendo fácil. Mas não fica por aí. Tem o já anunciado Blackberry 10, com a missão de reviver os tempos de glória da marca (não vai ser fácil ...), sim,  agora o Tizen, já citado. Temos também o Jolla Sailfish, do pessoal que fazia o Meego e saiu da Nokia, e é mais um descendente do Meego. Estes últimos três são os mais certos de sair, mas além disso os projetos do Firefox OS, rolando faz tempo, devagar e sempre, e por fim o anúncio do Ubuntu para Smartphones (não confundir com o Ubuntu para Android, que é outra coisa). Contou? Somando tudo: Android, iOS, Windows Phone, Tizen, BB10, Sailfish, Firefox OS e Ubuntu, seriam nada menos que 8 sistemas, dois estabelecidos, um correndo atrás  e 5 tentando a sorte.

Primeiro, devo esclarecer que não acho isso ruim necessariamente, são mais opções para o consumidor. Mas será que existe espaço para tantos sistemas? Talvez, a depender do sucesso de padrões como o HTML 5, QML, etc., que tendem a uniformizar as interfaces de aplicativos. Mas este cenário seria péssimo para fabricantes que vivem do diferencial e da fidelização, do qual a Apple é o melhor exemplo.

Segundo, dado que o mundo hoje não é o paraíso da padronização, até que ponto um usuário estaria disposto abrir mão do seu ecossistema (o conjunto do sistema operacional, fabricantes, desenvolvedores de aplicativos, os apps, a loja, cloud, etc) atual? Se hoje me dessem a opção entre o Android que eu já uso e um novo sistema excelente e cheio de features novas, eu teria dificuldade em abandonar os meus Apps, o drive, agenda, etc. Já estou no quarto aparelho Android consecutivo, por mais de quatro anos também, e com a visão geral que a Google está fazendo um bom trabalho. Para abrir mão disso teria que haver alguma decepção muito forte com o atual, e/ou uma vantagem grande no novo. Outro detalhe: destes 4 aparelhos Android que tive não eram do mesmo fabricante, eu estava preocupado apenas com meus dados na nuvem e meus apps, logar na minha conta e ver tudo lá. Pela minha observação dos usuários Apple, minha impressão deles é semelhante, com a diferença que só existe um fabricante e praticamente um modelo, com poucas variações. A Apple é o fabricante que construiu um ecossistema de forma pioneira, e quem está ganhando é isto, e não o hardware.

Então, respondendo ao título, hoje em dia pelo menos a minha aposta é que ganha o sistema operacional, por causa do ecossistema em torno dele.  Em outras palavras, ganha o Android, perde a Samsung (uma perda limitada no tempo e espaço a este embate apenas). A não ser por algum desastre no Android, que não se tem porque esperar no momento que vá ocorrer. Apesar do que, em favor do sucesso da Samsung nesta investida eu vejo também o nome forte na marca, o desenvolvimento de componentes (processadores e memórias) e as fábricas próprias, o que gera economia de escala, e também o pragmatismo: ao contrário da Nokia, que apostou todas as suas fichas do WP, a Samsung jamais disse que ia parar de fazer Androids e WPs... Ou seja, de um modo ou de outro, a Samsung ganha, mais ou menos. E não sei ao certo em qual das opções eles lucram mais, independente de qual for o plano principal.

A Samsung parece que já dá sinais de que quer controlar o seu próprio sistema há mais tempo, o que talvez explique a Google mudando a linha Nexus para a LG no ano passado. Alguém pode lembrar que o Tizen é open source, em teoria não fica fechado com a Samsung, mas que influencia um fabricante menor teria nele? E sendo assim, porque entraria nesse barco?

E com isso tudo, acho que todos estes outros sistemas novos (Firefox OS, Ubuntu, Sailfish, etc) também terão uma vida difícil pela frente, e terão que apresentar vantagens muito grandes, seja preço baixo, sejam features inovadoras, para sobreviver.  O cenário que transparece no discurso de alguns dos desenvolvedores de sistemas móveis abertos é de um mundo com várias plataformas livres, a maioria baseada no linux, compartilhando diversas tecnologias abertas e até colaborando entre si. Gostaria de que o futuro seja assim, mas temo que tenda para algo menos nobre. Então visto por outro ângulo, quem ganha são os fabricantes, mas apenas os fabricantes vencedores que criam ou se unem ao ecossistema certo (o que exclui a Nokia em 2011-2012, por exemplo).

O cenário alternativo seria a Samsung tendo sucesso com o Tizen e se fechando em torno deste sistema, a Apple exatamente como já está, com seu próprio sistema fechado, assim como a RIM (do BB10, que sempre teve esta política também), e por fim a Google sendo obrigada a usar a Motorola de forma semelhante ao Tizen, com a debandada dos parceiros em hardware. Talvez algum outro fabricante adotasse alguns dos outros sistemas abertos em menor escala ( incluindo o Tizen, ou o Android, que apesar de tudo são open source) ou aos novos: Firefox OS, Sailfish, etc.

O cenário ideal para mim seria a venda generalizada de aparelhos com booloader desbloqueado e fabricantes disponibilizando todos os drivers em open source de todos os sensores e dispositivos internos (acelerômetro, câmera, controle de bateria, etc). Com isso se poderia criar e instalar versões dos diversos sistemas em qualquer aparelho. Como se faz hoje com os PCs! Probabilidade disso acontecer? Algo próximo de zero...  :-)

Os sinais de qual será o cenário dominante devem aparecer ao longo de 2013, com a receptividade das operadoras e do público aos novos sistemas. Um embate interessante que começa agora, e será divertido de assistir.

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