terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Retrospecto de 2014 na área de TI

Um ano é um tempo arbitrário para se fazer retrospecto em tecnologia. Ao contrário por exemplo da agricultura, que depende de estações do ano (logo, associadas ao período anual), e que podem ser relacionadas aos resultados das safras. Ou da contabilidade, que por tradição resume as atividades financeiras por ano. Os fatos ligados a tecnologia transcorrem em seu próprio ritmo, e podem fazer mais sentido em períodos maiores ou menores... Aqui no blog não tenho o hábito de fazer este tipo de análise anual. Mas em parte para seguir as tradições milenares da humanidade, em parte por diversão, vou listar alguns fatos relevantes de 2014. A escolha será totalmente arbitrária também, e quem achar que alguma outra coisa não incluída valia uma menção, é só colocar nos comentários.



1 - A consolidação (com aumento) do mercado global do Android (mais de 80%, pela maioria das fontes), a diminuição do iOS (em torno de 12%) e a estagnação do market share Windows Phone, este ultimo em torno de 3%, dependendo da fonte entre 2,9 e 3,5. Não é propriamente um furo de reportagem, é uma continuidade de tendências de anos anteriores, de forma consistente. Mas considero muito importante e não poderia faltar na análise do panorama geral de 2014, e para previsão do que virá pela frente. E o que pensar em um cenário em que mais uma vez uma única empresa domina tantos setores (incluindo um sistema operacional)? O tamanho do Google por exemplo começa a incomodar a União Europeia, que já fala em dividir os negócios da empresa por lá. Nada concreto, e pode ser que nunca aconteça, mas a situação já chama a atenção. Já vimos este filme? A história se repete.

2 - A reação da Microsoft: concretização da compra da parte de dispositivos da Nokia, Windows Phone OS gratuito para os fabricantes que quiserem, anúncio do Windows 10, .Net framework open source, Visual Studio Community, e até mesmo a compra do Minecraft, mostram que em 2014 a  Microsoft realmente abandonou a acomodação dos anos anteriores e tem uma estratégia consistente para continuar relevante em um futuro próximo. E está precisando, vide o item anterior (3% de market share mobile...).

3 - A consolidação do streaming para vídeo e áudio, e a derrocada geral dos meios físicos, ficou evidente este ano para quem quiser ver. Nada disso foi inventado agora! Mas este foi o ano em que  percebi uma mudança de público, a entrega de conteúdo puramente digital se popularizando, e não apenas no noticiário especializado em TI, mas comprovando da conversa com pessoas conhecidas, não ligadas em tecnologia. Um publico típico consumidor de classe média entre 15 e 50 anos. Quer dizer, muito abrangente. Na faixa dos 60 anos eu percebo (generalizando) ainda reação a estas "novidades", e com menos de 15, em geral a pessoa não tem muita decisão final de compra. O Netflix finalmente passou a ser comum aqui no Brasil, e a entrega de musicas por streaming também está aparecendo aos poucos, na medida em que a banda larga vai ficando melhor e mais acessível. E a Google finalmente disponibilizou neste ano as musicas no Play Store para o Brasil. Quer dizer, já é totalmente viável, para quem quiser, liberar espaço nas estantes de todos os meios físicos, e viver só de arquivos e streaming. E já é possível fazer isso legalmente, comprando cartões de créditos da Google Play Store ou da Playstation Store em lojas de departamentos.

4 - Ao mesmo tempo, neste ano nunca foi tão bom para quem gosta de colecionar filmes e séries em discos físicos. São muitas promoções de DVDs e blurays, e não apenas os títulos de baixa procura encalhados, mas clássicos e sucessos de bilheteria relativamente recentes. Não sei se isso vai durar, ou se são apenas queimas de estoque, ou se é uma tentativa de retomar o interesse do publico. Sabe-se que a Sony é uma das maiores interessadas no bluray, no qual investiu muito, e não gostaria de ver o formato simplesmente morrendo prematuramente. Por falar em formato "morto", a produção de LPs continuou crescendo este ano. Como já tinha chegado a quase zero, claro que continua pequeno, mas só que vivo: um produto de nicho que deve continuar assim, indefinidamente. O que me dá esperança que sempre haverá um nicho para colecionadores das demais mídias físicas nos formatos mais populares do passado:  CD, DVD, bluray, etc. Talvez o preço mais baixo e as promoções sejam apenas uma acomodação à nova realidade de competição com os meios digitais, e o ritmo de ofertas a preços mais baixos continue indefinidamente. Estou torcendo por isso, mas não há como garantir que não ocorrerá o sumiço completo dos discos óticos daqui a alguns anos.

5 - Os vazamentos de fotos de famosos: 2014 foi o ano em que o público foi bombardeado com notícias seguidas de episódios de vazamentos de fotos de famosos. Não citarei nomes para não dar ainda mais "famosidade" a eles ... :-) Na maioria dos casos as fotos estavam em serviços de nuvem, incluindo o iCloud. Não quero aqui acusar a empresa, que inclusive se comprometeu a rever e consertar a segurança. O risco de invasão é inerente à tecnologia, e os profissionais envolvidos em segurança de informação sabem que é uma corrida sem fim entre atacantes e defensores, achando e fechando as vulnerabilidades. "Qualquer sistema pode ser invadido" parece frase de efeito de filme, mas não está longe da realidade. O que eu acho que se perdeu neste momento foi a oportunidade de conscientização do publico sobre esta realidade. Os debates se focaram apenas no crime cometido pelos hackers, do quanto isso é errado, e sobre isso não discuto, são culpados mesmo, criminalmente e moralmente. Não se trata de culpar as vitimas por tirarem as fotos, ou colocarem nos seus serviços, é um direito delas. Mas será que ao fazerem isso estão conscientes de todos os riscos?  O debate sobre os episódios de vazamentos de fotos passaram longe disso, e se limitaram a recriminar os hackers. Apenas indignação e lições de moral não vão proteger os usuários. E depois do ato feito, a vitima é que precisa correr atrás do prejuízo. E no caso de "ataque digital", ele pode vir de qualquer lugar do mundo, não apenas do seu próprio país. Como acionar a justiça, processar culpados? A situação é pior do que parece, precaução é a melhor atitude.

6 - E no finalzinho do ano, mais um episódio de segurança, a invasão da Sony. Novamente um aspecto moral, a tentativa de um grupo terrorista de censurar um filme, um ataque à liberdade de expressão. Mais uma vez políticos e celebridades se mobilizaram, se manifestaram. Sou solidário a este tipo de atitude, de defesa à liberdade de expressão. Mas o fato técnico é que havia uma vulnerabilidade a ser explorada. Que se saiba até o momento não houve trabalho interno na empresa. Minha percepção mais uma vez é da vulnerabilidade de qualquer sistema, e aí poderia até se incluir o fator humano, e sobre a necessidade de fazermos uma reflexão do quanto dependemos cada vez mais destes sistemas em nuvem, públicos ou privados, e da possibilidade real deles serem comprometidos. Uma coisa é ficarmos sem a Playstation Store uma semana, outra seria a invasão e uso não autorizado dos sistemas de controle de voo, de usinas nucleares, distribuição de água, etc. Uma abordagem sobre este tipo de possibilidade foi na série 24 horas, na sétima temporada (2007).  Então o perigo já é conhecido faz tempo. Será que já se está fazendo o melhor possível para tratá-lo?

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