O VoIP (voz sobre IP) é uma tecnologia já amadurecida e antiga, sendo usada há décadas, e desde então me parece que tudo o que a humanidade precisaria para se comunicar seria uma conexão na Internet de qualidade mínima e um dispositivo projetado para fazer as ligações, ou um computador com o programa para isso, o que praticamente todo mundo já tem, se considerarmos que smartphones são computadores. O tempo foi passando e no entanto ainda coexiste, e na realidade domina, uma infraestrutura de telefonia baseada em tecnologias bem mais limitadas e caras, tanto a fixa como celular. A limitação por exemplo de ter que ter um número escolhido por uma operadora, um número associado a uma linha ou aparelho, e não usar uma conta em qualquer serviço. Ou a de não ter opção ainda de vídeo-chamada, e por aí vai. Serviços de VoIP já antigos como o Skype passaram por cima destas duas limitações a tempos. Por algum tempo ainda considerava a restrição de velocidade das redes de dados móveis como uma explicação. Mas é preciso lembrar que esta limitação em grande parte só existe porque a banda de rádio-frequência está priorizada para o serviço de voz. E agora está entrando o 4G melhorando em muito a velocidade de dados. E por fim, mais no caso da telefonia fixa, a única desculpa para as ligações tradicionais seria continuar usando um terminal dedicado burro (vulgo telefone). Eu acredito que o real motivo no entanto é a velocidade com que as pessoas absorvem novas técnicas, e em grande parte, isso é pela mudança de gerações. O pessoal mais novo que já nasceu com Internet e smartphones poderia estar se perguntando porque pagamos tanto por um serviço mais limitado! Porque pagamos por itens desnecessários? Porque não estamos usando todas as facilidades da tecnologia atual?
Acho que aos poucos esta barreira está caindo. Todas as ferramentas estão aí, basta que seu uso se generalize para que a contratação de uma "linha" de telefone fixo ou móvel se torne passado. O que você teria é um dispositivo (smartphone, tablet, computador, etc) ligado na Internet, e um ou mais serviços de chamadas por chat/voz, como o Skype ou Viber. Então já dá para começar agora (se é que você já não começou). Tenho testado o Skype via WiFi ou 4G, e a qualidade da ligação é muitas vezes melhor que por ligação convencional. Comecei recentemente também a ligar do Skype para números convencionais, usando um plano, com bom resultado. Já poderia adotar como meu meio de comunicação principal. Mas ainda existem algumas dificuldades. O primeiro é o custo dos pacotes de dados caso se use 4G. Como as redes das operadoras de celular ainda priorizam as chamadas convencionais, a parcela da banda para dados tem pouca oferta e custa caro. Além disso tem a questão da abrangência do uso. Como ainda muitas pessoas e empresas tem números convencionais, e pedem contatos por telefones convencionais, isso obriga a manter uma linha, nem que seja apenas um celular. Em parte se resolve com pacotes para ligações de VoIP para números convencionais, como no Skype, que ainda saem bem mais baratos que um plano convencional.
Por fim resta a questão da universalização de um serviço, ou compatibilidade entre serviços, para ser possível ligar para qualquer um, tal como na telefonia convencional. Se eu uso o serviço de chamadas por voz A e outra pessoa usa o B, hoje em dia não há interface entre eles, por exemplo o Skype e o Viber. Hoje clientes da operadora de fixo/celular A falam com a operadora B, bem como com todas as outras, e também mandam SMS para qualquer uma, a custos variáveis sim, mas a possibilidade pelo menos existe. Não preciso saber qual a operadora de alguém para ligar, nem preciso ter chips (cartão SIM) de mais de uma operadora. Mas no caso dos apps de comunicação instantânea, hoje em dia todos teriam que optar por um único app, o que configuraria um monopólio. O Whatsapp atualmente é um exemplo de como funcionaria. Muitas pessoas estão substituindo SMS, totalmente ou não, pelo Whatsapp. Em parte isso é possível porque a maioria das pessoas adotou este app. Mas quem não adotou está de fora de alcance. Não é universal. Outro bom exemplo é o Hangouts do Google, já que ele vem no Android e este sistema está dominando quase 80% do mercado. Mas também não é universal, e não alcança quem por acaso usa outra coisa.
E sobre o Whatsapp vem a primeira notícia que indica uma mudança no equilibro de forças... Rumores afirmam que em breve ele terá também ligações por voz, como neste artigo do Globo. E neste mesmo artigo é citado que a vantagem sobre outros serviços similares seria o grande número de usuários. O Whatsapp por outro lado é de certa forma um retrocesso: ele está amarrado a um número de telefone. Uma vinculação que pode ser prática de inicio, já que não preciso criar uma conta e senha no serviço, mas tenho que ter um contrato de linha de celular, nem que seja um pré-pago. E não consigo usar a mesma conta sincronizada em dois ou mais celulares (com números diferentes). Tenho implicância com o simples fato de passar para alguém um número que não significa nada, e não uma conta, como por exemplo fazemos hoje com email ou a conta do Skype, que indica meu nome, é mais pessoal e é muito mais fácil de lembrar.
A outra notícia é interessante porque vai no sentido inverso, a Google virando uma operadora de celular. Quer dizer, uma empresa que veio da Internet, da Web, quer vender um serviço tradicional de telefonia. O interessante é tentar imaginar porque, qual a estratégia por trás disso. São varias peças que se juntam. Eles já tem um sistema operacional móvel dominando (um tal de Android...). O maior lucro da empresa vem de anúncios. Para isso é preciso que o maior número de pessoas vejam os anúncios. Também existe o negócio de venda de conteúdo. Para isso é preciso transferir este conteúdo para as pessoas (via Internet com banda larga). Eles já oferecem banda larga diretamente a consumidores finais em algumas cidades dos EUA, é limitado, mas entendo como um teste de mercado. Talvez a intenção seja oferecer o acesso móvel de forma mais agressiva e com isso aumentar o público de seus anúncios e da sua própria loja e serviços de nuvem. Apenas talvez, mas faz sentido para mim. E neste caso a telefonia apenas vem junto do pacote. A Google não pretende investir em infraestrutura, antenas, eles vão subcontratar serviços de outras operadoras e fazer a interface comercial com o cliente.
E a terceira notícia que indica mudanças, um chip GSM só para usar o Whatsapp, o WhatSim. A idéia é que se alguém usa o telefone só para Whatsapp, então porque pagar por um plano de voz+dados genérico? Só que agora, com o Whatsapp provavelmente entrando na comunicação por voz, será que não haverá um upgrade também neste chip? O site do serviço: http://www.whatsim.com/en. É uma empresa Italiana, quem preferir ler em Italiano: http://www.whatsim.com. O Brasil está na lista de cobertura.
Concluindo, com serviços de VoIP se popularizando, as operadoras veriam seus clientes consumindo menos planos de minutos e usando mais planos de dados, isso quando não estiverem um algum WiFi. Não significa que elas vão acabar, mas haverá menos margem para criar pacotes de vendas casadas de minutos, sms, dados. Tudo o que as pessoas precisarão é de um bom plano de dados, então um ajuste nos serviços é necessário. Outro aspecto: tanto no caso da "Operadora Google" quanto no WhatSim, as operadoras tradicionais estão por trás como provedoras de Internet. Só que não estarão negociando com clientes finais ingênuos e consumistas e sim com multinacionais e seus exércitos de advogados.
[Update 24-04-2015: A operadora do Google foi oficialmente anunciada, agora chamada de 'Project Fi', tem a intenção de ter uma abrangência limitada, inclusive inicialmente restrita apenas aos usuários do Nexus 6. Tal como o Google Fiber, A idéia é causar uma quebra de paradigma no mercado, e não dominá-lo. Neste post dos Gizmodo são listadas algumas das características do serviço. Particularmente gostei da independência número de telefone x dispositivo. Minha avaliação é que estrategicamente a Google precisa de acesso de banda larga móvel generalizado entre a população, para que seus serviços e anúncios alcancem o máximo de público, pelo máximo de tempo. Então a entrada no mercado é no sentido de criar este tendência. ]
domingo, 1 de fevereiro de 2015
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