sábado, 27 de fevereiro de 2016

[Atualizado] Windows Mobile: morto ou em coma?

Este blog tem feito cobertura do Windows Phone (agora Mobile, de novo), mais ou menos desde a versão 8.0, e ao que parece esta plataforma chegou agora a um momento crítico ou, pela opinião de muitos, um momento final. Então considero pertinente a análise desta situação e das opiniões que estão circulando na mídia especializada.

Este início de 2016 trouxe números ainda mais desanimadores sobre as vendas e a participação de mercado do Windows Phone, e a opinião geral dos analistas é que a plataforma não tem mais chance de recuperação, que está morta. Morta, mas não oficialmente, porque afinal ainda está em catálogo, está à venda, embora poucos estejam comprando, está sendo atualizada. Então outros estão chamando de walking dead, ou zumbis, morta mas não tanto. Eu prefiro usar um conceito mais científico e médico de coma, pois ainda há alguns sinais vitais, embora para todos os efeitos não tenha vida  plena. Em meio a tantos posts dramáticos e desanimados, um artigo particularmente interessante e bem humorado é este do site Tech Crunch, que faz referencia a um conhecido quadro Monty Phyton, cujo script completo pode ser encontrado na Web. A ideia central é de um consumidor reclamando que comprou um papagaio morto, e o vendedor argumentando que não é bem assim. Mas morto é morto... Em determinado momento momento o cliente enfaticamente repete diversos termos significando morto, e termina que é um 'ex-parrot', daí o' ex-platform' do título do artigo.  Eu ainda vejo o paciente em coma, embora com quase nenhuma chance de sair dele, e com indicações de que a própria família (a Microsoft e os principais apoiadores) também já não acreditam nisso. Mas será que vão autorizar desligarem as máquinas?



A maior probabilidade é que a Microsoft continue dando suporte à plataforma por algum tempo, ou como projeto de imagem e de referência, como a linha Nexus do Google, sem expectativas de vendas em massa. Faria isso talvez para não deixar uma lacuna tão visível na linha da Microsoft, no qual uma empresa de software tradicionalmente voltada para sistemas operacionais não tem uma opção de sistema operacional próprio para o segmento cada vez mais importante de smartphones. Ou para dar ao mercado sua visão de uma experiência completa com produtos próprios. Ou ainda, para não assumir o fracasso de forma tão contundente.


Existe uma pequena esperança, a de que no futuro as aplicações universais para Windows, não especialmente desenvolvidas para smartphone, mas para o Windows em geral, incluindo desktop, sejam uma massa crítica que alimente também os smartphones com Windows. Mas um banco, por exemplo, desenvolveria prioritariamente um aplicativo para smartphone Android e iOS, e não para um tablet ou PC com Windows. Nestes últimos bem ou mal se pode acessar via Web. Então esta suposta app universal talvez ainda demore demais. Além disso, as pessoas lembram do continuum como uma vantagem da plataforma. Tecnicamente eu concordo, mas para que ela funcione é preciso um hardware mínimo maior, que remete a um dispositivo mais caro, no qual poucos vão querer investir se não tiverem acesso também aos apps mainstream das plataformas dominantes. Ou seja, não creio que o continuum hoje seja determinante de compra.  Existe também o rumor do Surface Phone, pelo qual a Microsoft apostaria na arquitetura x86 e em uma marca de maior sucesso, a "Surface", dando mais um reboot na linha de smartphones. A linha Surface é voltada para o segmento top, mais cara, e sequer é vendida no Brasil. Eu não acho que muita gente, tirando os maiores fans, fossem investir em produtos mais caros e que tivessem menos funcionalidade (de novo pela falta de apps). Por fim, de nada adianta o Windows Mobile ter uma interface de usuário superior, a fluidez de desempenho em hardwares modestos e etc, se aqueles apps sociais que todos estão usando não estão disponíveis, ou os apps essenciais, de bancos, e etc. Enfim, a falta de aplicativos, sempre.

Morto ou em coma, depende do ponto de vista. Do ponto de vista do mercado parece que sim acabou. Mesmo lembrando que como falei, algo que morre pela segunda vez não dá muita certeza de estar realmente morto.  Por quanto tempo ele sobrevive neste estado de quase zero market share? Em teoria a MS tem recursos para desenvolvê-lo indefinidamente, embora eu duvide que o faça se depender de também manter uma operação de hardware dando prejuízo. O que já aconteceu foi uma diminuição drástica da linha de produtos, dos lançamentos, além das demissões em massa de pessoal proveniente da Nokia. Não parece que eles estejam se preparando para investir em hardware. Sim, eu gostaria de ver um lançamento do Surface Phone, mas de preferência se tivesse motivos suficientes para comprá-lo. Mas com notícias como essa, do fechamento das lojas físicas no Brasil, isso já não fará nenhuma diferença.


Acredito que minha experiência pessoal com o Windows Mobile foi mais completa que a da maioria das pessoas, porque fui early adopter de smartphones, em torno de 2007, e porque meu primeiro smartphone na realidade foi um Windows Mobile, o Moto Q, com o Windows Mobile 5.1, o sistema que ainda foi a base do kernel do Windows Phone 7 (o Windows CE), antes da unificação de código do Windows Phone 8. Claro que o 5.1 era um sistema operacional totalmente diferente em termos de experiência do usuário do que foi o 7, era outra proposta mais parecida com um Blackberry antigo de teclado físico... Mas o Moto Q com Windows Mobile tinha algo em comum com os futuros smartphones com o novo Windows Phone do 7 ao 10, e não é só o nome "Windows " e a empresa desenvolvedora Microsoft: era o potencial não aproveitado de um SO devido a uma série de equívocos de engenharia e de marketing, que determinaram o fim precoce da plataforma em 2007/2208, porque sim, o Windows para smartphones está morrendo pela segunda vez. Naquela época fui literalmente obrigado a abandonar o Windows Mobile 5, pela falta de atualizações, de aplicativos, de possibilidades de customização, de ferramentas de desenvolvimento. E acima de tudo, porque simplesmente não havia um sucessores no mercado, era o fim de linha. Então comprei um Android, também da Motorola, o "Motorola Dext" (MB220, também chamado de Cliq nos EUA). E a impressão com a mudança Windows Mobile 5.1 para Android 1.5 foi de um progresso absurdo: milhares de aplicativos, versões de ROM customizadas, muita informação sobre desenvolvimento, etc. E isso mesmo com aquele Android 1.5 original cheio de problemas.

A partir daí, desde 2008/2009,  trabalhei com a previsão que o mercado de smartphones se dividiria entre Android e iOS, que foi o que aconteceu cada vez mais. Lembrando que naquele momento o Symbian ainda era o sistema móvel com maior parcela de uso. No lançamento da linha Lumia, com Windows 7, o Lumia 800, e a Nokia fazendo a parceria com a Microsoft, fiquei cético e apostei que não daria certo. Só que alguns anos depois, por pura curiosidade e pelo preço muito baixo, acabei comprando um Lumia 520. E o pior é que gostei muito do sistema, apesar de continuar achando que ele era um azarão. Um ano depois comprei  1320, que estou usando até hoje (alternando com outros smartphones Android ... e outros). Até certo ponto acreditei que poderia ser indefinidamente uma terceira opção menos popular, e continuei usando. Atualmente ainda é uma diversão esperar e testar cada nova build do Windows 10 Mobile no Fast Ring e ver a evolução do sistema.  Para mim de certa forma ainda não é um sistema morto, e sim ao contrário, um sistema sendo criado. Mas olhando em termos de mercado e comparando com as demais plataformas, fica muito difícil dizer que existe chance de recuperação. Ao contrário de um ano atrás, não teria consciência tranquila para recomendar a praticamente ninguém, tirando uma ou outra situação específica. Então a conclusão para o público em geral é a mesma daquele comprado de papagaio do Monty Python, morto é morto.

[Update 03/06/2016; Depois deste artigo mais alguns pregos foram colocados no caixão da linha Lumia. A MS declarou de vai focar apenas no mercado corporativo, que vai focar apenas no sistema operacional e não em hardware, vendeu mais algumas partes do negócio compradas da Nokia, demitiu mais de 1800 pessoas ligadas a estes negócios. Além disso o Lumia 950, que chegou a ser anunciado no site brasileiro da Microsoft, nunca foi realmente comercializado aqui. Acabei de ver que na data desta atualização, 03/06/2016, o Lumia 950 ainda está lá no site, marcado como "Em Breve". Pessoalmente consegui vender o Lumia 1320 citado no post, depois que ele foi retirado do programa Insider do Windows 10. Ainda tenho o 520 guardado como relíquia. E por fim, algumas pessoas ainda falam do Surface Phone em 2017. Eu aposto que se a MS o lançar, será só em alguns mercados e não no Brasil, como fez com o tablet, e ficará esperando que outras fabricantes usem o sistema e lancem no resto do mundo.]

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