quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Tizen, o "sucessor" do Meego

Do post no site oficial do Meego, "meego.com":

"I want to personally thank everyone who has participated in MeeGo over the past year and a half, and I encourage you to join us at Tizen.org."


Preciso dizer mais alguma coisa? Então aí vai uma imagem, do mesmo site:

Captou? O site "meego.com" aponta para o "tizen.org". O que muita gente esperava aconteceu, o Meego entrou para a história. Não tão esperado é que ainda teria sucessor, o "Tizen". A Nokia já havia abandonado o barco, e o único motivo para ainda ter lançado o N9 e o N950 com Meego foi provavelmente para desovar os investimentos já feitos:  estoque de peças, as máquinas de fábrica configuradas e o sistema pronto. Fora isso, depois do anúncio da parceria com a Microsoft, nada justificaria a continuidade do produto. Já a Intel ficou sem uma parceira em fabricante de dispositivos móveis, e ficou com o abacaxi do Meego na mão. Agora ela busca outras parcerias, e o Tizen é mais uma tentativa.



Para quem perdeu os últimos capítulos, vai um resumo. No início era o Maemo, sistema da Nokia baseado no Debian, um lançamento bem anterior ao Android, mas inicialmente não em smartphones e sim em uma espécie de PDA, algo que na época chamavam de "tablet" mas que tinha tela do tamanho de um smartphone atual (exemplo, o N800, sem função de telefone). Posteriormente o Maemo foi lançado no N900, este era um smartphone, mas no mercado já dominado pelo iOS e Android. Depois veio o anúncio que o Maemo se fundiria com o Moblin, o antigo sistema da Intel baseado em linux, formando o Meego. Agora o Meego deve "ser fundido" com o Limo, para criar o "Tizen".


O que fica do Meego? Nos foruns os desenvolvedores já estão se perguntando para onde vai o Qt, já que pelo anúncio o desenvolvimento no Tizen vai se basear em HTML5. O que ficou na transição do Maemo para o Meego? Do ponto de vista do usuário, quase nada, é outro sistema. O que fica do Meego no Tizen? Provavelmente, não muito, ou nada.


Essas tentativas de criação de um sistema são tão esquisitas e fracassadas, vindo de empresas grandes e cheias de recursos para pesquisa e desenvolvimento, que já existem teorias de conspiração que são feitas pra dar errado de propósito. Tipo a Intel criando fracassos propositais para um dia recriar o domínio Wintel em smartphones e tablets... :-) [atenção, eu não estou endossando esta teoria, só achei divertida...]. De qualquer modo, parece muito dinheiro jogado fora. A Nokia investiu muito no Maemo e Meego, a Intel no Moblin e no Meego, etc. As empresas continuam, pior é para quem depositou alguma esperança, investimento, dinheiro, estudo e fez planos com base nestes projetos.


Ponto de vista de um usuário (hard-user) sobre o Maemo e o Meego: tenho um N900 com Maemo 5, continuo achando um ótimo aparelho. O que estava errado no Maemo e no N900? Duas coisas. A primeira, o timing do lançamento. Sendo a Nokia uma empresa de celulares, ela lançou o Maemo inicialmente para um aparelho sem função de telefone (N800 e antecessores), deixando os competidores crescerem à vontade! Quando o N900 foi lançado, era tarde demais. E ele não era propriamente um aparelho para as massas, era grande demais, com  teclado físico que encarece e pesa, e tela resistiva. O N9 (com Meego) é que seria adequado naquela época! Ou seja, o N9 está uns 3 anos atrasado. Não precisaria ser exatamente o N9, bastaria algo parecido com um N8 (tela capacitiva e design atraente) com Maemo instalado (com as devidas alterações para a tela capacitiva) e já seria ótimo. 


O segundo erro da Nokia no N900+Maemo é quanto à interpretação de software livre. O Maemo se baseia em Debian, isso é ótimo, mas partes essenciais do firmware são proprietárias, como por exemplo o driver de controle da bateria. E sem ele o aparelho não pode ser usado na prática. Entre outros drivers. Recompilar e montar o sistema operacional dos fontes, que seja usável na prática, uma coisa que hoje em dia se faz em boa parte dos smartphones com Android, é impossível no N900. A critica imediata a este argumento é que o usuário não liga pra isso. Mas os desenvolvedores ligam, e eles são uma parte fundamental do ecossistema, são formadores de opinião. E dão suporte ao sistema quando o fabricante o abandona, tipo as atualizações do Android que certas empresas nunca lançaram nem vão lançar, e estão disponíveis via mods. E também fazem aplicativos para o sistema.


Resumindo, a Nokia errou muito, já pagou por isso, e na minha opinião vai pagar ainda mais. A Microsoft também errou no Windows Mobile 6.x, já pagou com a perda do market share, e não emplacou ainda o Windows Phone 7, que se der errado vai levar a Nokia junto. A Intel está lutando para ter um espaço no mercado móvel, ao que parece tudo que ela quer é algum sistema que seja compatível com a plataforma x86 (Atom), já que o Android, embora exista versão para x86, de fato é vendido para ARM, que é mais barato e eficiente em energia. A única forma de introduzir processadores Intel para smartphones e tablets hoje seria por meio de algum convênio, o que eles tentaram com a Nokia. Mas sem um produto competitivo em eficiência e preço, fica difícil. Ou seja, a associação Nokia-Intel já tinha tudo para dar errado. Não satisfeita, depois disso a Nokia se alia com a Microsoft.


Falando sobre alianças, no TIZEN, de início se sabe que estão envolvidas a Intel, a Linux Fundation e a Samsung. O que cada uma ganha com isso: a Intel como já dito precisa de um sistema para os seus chips (e agora este cargo seria do Tizen) e de uma parceira fabricante de dispositivos (a Samsung). A Samsung talvez queira um sistema alternativo ao Android, para não ficar só na mão da Google, e ter um plano B  para os ataques da Apple. A Samsung também tem o sistema Bada, que ela está tocando sozinha. Talvez ela substitua o Bada como o sistema alternativo  (ou talvez venha a ser seja mais um, o que seria uma estratégia bem confusa, ou talvez o Bada também "se funda" ao Tizen ... :-)  ). A Linux Fundation vai apoiar qualquer coisa que use o kernel do linux, que contribua com fundos ou publicidade e que justifique a sua sobrevivência, eles não tem nada a perder.

Leia também:
LiMo Foundation and Linux Foundation Announce New Open Source Software Platform, Tizen™

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