Depois da demissão da presidente do Yahoo!, especula-se agora se a empresa será vendida. A notícia saiu no site G1. Entre os prováveis compradores estaria a Microsoft. Acho que o Yahoo! já teve mais interesse para a Microsoft que tem hoje em dia. Esta última continua tentando emplacar o "Bing", mas pelo menos tem a vantagem de possuir um sistema operacional para tentar mostrar o seu provedor de buscas (é o default do IE, está na página inicial do MSN, que é a página default do IE, etc., quase todo mundo dá de cara com o Bing pelo menos ao fazer uma nova instalação do Windows, a não ser que tome o cuidado de nunca abrir o IE ... :-) ).
A relevância do Yahoo! tem diminuído, na minha opinião, desde a perda da liderança na área de buscas, para o Google. E a empresa não tem outro serviço de sucesso além de ser um portal genérico: notícias, serviço de email, grupos de discussão e etc. A fonte de renda deve ser apenas propaganda no site, que é proporcional a acessos, disputados em igualdade com milhões de outros portais. A outra pancada no Yahoo! deve ter sido a ascensão das redes sociais, que não só ocuparam mais tempo de navegação dos usuários, como suas comunidades entraram no mercado do "Yahoo! Grupos".
Não sei o grau de liberdade que Carol Bartz tinha para mudar esta estratégia e tentar explorar outros mercados, nem qual era sua opinião quanto a isso. Mas se não tinha, o declínio não foi culpa dela. O Yahoo! era uma das últimas empresas da "bolha da Internet", que vinha sobrevivendo depois do estouro (da bolha). Eles podiam ter tentado vender vídeo e música pela Internet, eles podiam ter tentado fazer um sistema operacional de smartphones (como o Google), sei lá, qualquer coisa, porque apenas investir em ser "portal" não vejo muita perspectiva.
A "bolha", para quem não pegou esse tempo, era quando se falava das empresas da "nova economia" (da web) desbancando as tradicionais "de tijolo e cimento", como se a tecnologia de comunicação com o consumidor redefinisse a economia toda. Esses dois termos eram martelados continuamente no noticiário, e a oposição entre as duas economias era tida como um fato, dando a entender que "a nova" estava substituindo "a velha". Essa ilusão finalmente acabou, e se percebeu que muitas dessas empresas da "nova economia" não tinham como ser auto-suficientes, a maioria nunca chegou a dar lucro. Algumas fecharam, outras foram adquiridas, e uma minoria sobreviveu, pelo tamanho e boa administração. O Yahoo! era uma delas, mas boa administração não é suficiente quando as fontes de renda a serem exploradas ficam escassas. O Yahoo! hoje é um dinossauro dessa época, apesar de nem fazer tanto tempo assim.
O outro possível comprador do Yahoo! citado da reportagem do G1 é o AOL, que é uma empresa mais ou menos na mesma situação do próprio Yahoo!, O AOL inclusive tentou se associar a uma empresa da "velha economia" (a Time-Warner) mas não deu certo. É interessante que o AOL inicialmente era uma empresa com finalidade bem concreta, de ser uma rede privada, "um serviço online", e depois um provedor discado para Internet (a época em que eles davam milhões de CDs gratuitos com o programa discador o AOL). Mas os provedores de Internet agora são as empresas de telecomunicações, e de certa forma sempre foram. Ser provedor discado era colocar modems dial up em alguns números de telefone, numa ponta da linha, e esperar a chamada do modem do cliente para se conectar, e depois fazer a ligação com os backbones das operadoras de telecomunicações. Com a banda larga as próprias operadoras levaram o cabo para a casa dos clientes. Em alguns casos, como por exemplo a operadora Oi aqui no Brasil, o cabo sempre esteve lá, eles apenas estenderam os protocolos para conectar o modem ADSL. Então com o fim desse mercado de provedor dial-up, a AOL tentou ser também um provedor genérico de conteúdo, portal, etc., o que é realmente difícil pelos mesmos motivos vistos acima. A diferença é que, ao contrário do Brasil, em que se fica tentando proteger os antigos provedores discados (com as vendas casadas do Oi-Velox por exemplo), lá fora eles tem que tentar sobreviver por conta própria.
Do ponto de vista pessoal, o Yahoo! foi meu segundo webmail gratuito "sério", depois que percebi como era ruim usar endereço de email associado a provedor Internet. O primeiro webmail dissociado de provedor foi o Hotmail, no meio dos anos 1990, que ainda tenho. Usei uns 2 anos, mas foi caindo em desuso porque na época oferecia uma quantidade de espaço ridículamente pequena (não lembro exatamente, mas acho que eram 2 Mb?), além de apagar os emails antigos em caso de inatividade da conta. Passei para o Yahoo!, que tinha mais capacidade e termos de serviço melhores, e usei como email principal por vários anos, até por fim aderir ao Gmail, com seu 1 Gb (no lançamento), lá por volta de 2004. Usei tanto o email como os grupos do Yahoo!, sem problema nenhum, e caso aconteça o pior, a desativação desses serviços, será triste. Mundo cruel ... :-)
Vamos aguardar os acontecimentos e ver o destino do Yahoo! e dos serviços análogos. A mim parece que, depois do fim da oposição "nova economia x tijolo e cimento", cada vez mais acabará essa distinção entre empresas antes consideradas "de tecnologia" e as outras empresas de serviços. As empresas terão que se redefinir melhor e escolher o foco. "Tecnologia" é um termo genérico demais para ficar sendo aplicado apenas à TI. Além disso, mesmo em TI, uma empresa teria desenvolver realmente alguma tecnologia (como por exemplo Google e Microsoft fazem) para levar este título. Empresas que antes eram associadas a TI acabaram perdendo este foco, tal como o AOL e o Yahoo!. O Yahoo! é uma empresa de TI, ou é um canal de comunicações, como um site de jornal? Me parece que hoje ela está muito mais para esta última. E está entrando como assunto aqui neste blog (sobre TI) muito mais pelo que foi no passado. [ Nota: A propósito, a mudança do nome do blog para "hardware e software", apesar de ainda me soar como um nome meio bobo, foi mais para marcar uma distinção com "tecnologia", que passei a achar muito genérico, ou mesmo TI, que também é. Não achei um nome mais interessante, mas este cumpriu bem este papel. Alguém pode notar que 'hardware' também tem outro significado, e pode ser outras coisas que não computadores, periféricos, mas com a palavra 'software' do lado não há dúvida!];
Outra questão ainda mais difícil de responder hoje em dia: e as redes sociais são serviços de TI? Ou são apenas mais um tipo de portal genérico? Ou vão virar uma plataforma para todos os aplicativos que dominará tudo? Ou serão as próximas a declinar daqui a alguns anos, quando se perceber que muito do que fazem ou é desnecessário, ou pode ser feito melhor de outro jeito? Hoje fica bem difícil de prever.
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