Há pelo menos uns três anos venho assumindo como verdade que a substituição dos celulares "normais" por smartphones é algo natural e inevitável, só questão de tempo. Logo os celulares "normais" (quer dizer, que não são smartphones) não serão mais os normais, serão a exceção. E depois acabará não fazendo mais sentido diferenciar os dois, ter uma palavra específica para um deles. Logo as classes C e D completarão a troca que já foi praticamente toda feita pelas A e B. Na realidade, o smartphone também pode se tornar a forma mais barata e popular de acesso à Internet e de inclusão digital. Com um plano pré pago se acessa a Internet via 3G por R$ 0,50 por dia (que usar... ). Não é a mesma coisa que um PC conectado por 10 Mbps, mas é algum acesso, dá pra ler email, acessar uma rede social, navegar um pouco na Web. Mas isso não significa que serão todos iguais, pelo menos nisso, no acesso móvel via smartphone?... :-) Continue lendo e verá porque não.
Então, não é questão de se, mas de quando, praticamente todos que atualmente tem um celular terão um smartphone. Isso não é um modismo, é uma tendência clara. A moda de que falo no título é não sobre a adoção ou não destes dispositivos, mas na influência no consumo e no comportamento com relação a eles, uma vez que eles venham a se tornar um item tão comum como qualquer outro acessório de uso pessoal.
Isso já vem me incomodando há mais tempo, mas ao assistir o episódio 14, quinta temporada, do "The Big Bang Theory", a coisa ficou clara. Sem spoiler, o iPhone 4S, ou mais específicamente "a" Siri, é um dos personagens principais do espisódio, sendo de fato o personagem principal de uma das 3 situações que transcorrem em paralelo. Obvio que não deve ter sido de graça, a Apple é uma das empresas que mais investe em marketing na TV e cinema. E ainda levando em conta que o tema geral do programa é ridicularizar os "exageros nerds" dos personagens, tive que reconhecer que o que estava sendo apresentado, e da forma como foi, era para o público comum comprar. Não é para geeks radicais, ou muito menos para passar alguma imagem negativa para a audiência comum. De fato, trata-se de reforçar uma tendência de moda, vendendo um produto baseado em estilo, com preço proporcional à imagem. iPhone com Siri é 'cool', é um simbolo de status, esta é a mensagem. Então até que ponto a tecnologia ainda é o centro do mercado de gadgets?
Não é mais, faz tempo, pelo menos para boa parte das pessoas, a grande maioria dos consumidores. Tecnologia dos produtos só interessa realmente a consumidores geeks, para os demais basta dizer que é a melhor, apresentar 2 ou 3 especificações, e pronto. Claro que ainda existem geeks, aqui usando o significado da pessoa verdadeiramente entusiasmada por tecnologia e gadgets. Só que eles sempre foram e sempre serão uma minoria. Não são pessoas melhores nem piores por isso, só tem interesses por coisas que a maioria não tem paciência. Para este grupo, o objeto e a tecnologia envolvida nele são importantes por si só, são um fim e não (apenas) um meio, e explorar todos os seus detalhes é a verdadeira diversão.
Mas o que temos cada vez mais é o pessoal que mal tem paciência de lidar com o controle remoto da TV, mas que está avidamente esperando os últimos lançamentos da Apple (e outras empresas, em menor grau, mas é preciso reconhecer que a Apple, ou melhor, o Jobs, soube entender muito melhor que ninguém como vender tecnologia para o público comum). São produtos tecnológicos sim, mas cada vez mais simples. Eliminaram os botões (lembra do controle remoto? botões em excesso irritam e intimidam), agora estão introduzindo controle por voz, em breve se poderá esquecer que aquilo é uma máquina (isso também aparece de passagem no espisódio do TBBT, ponto pra eles). Não é para entender, explorar, dissecar, e por isso que é tudo fechado, bloqueado, proibido. Compare a quantidade de usuários Apple reclamando que não pode instalar outro sistema com os de usuários Android reclamando de bootloader bloqueado e falta de drivers (para poder instalar outro sistema)! Sem querer generalizar, mas para usuário Apple típico não há a menor dúvida que aquele é o melhor sistema operacional e não há sentido em instalar outro, isto se tiver alguma idéia do que é um sistema operacional.
Mas isso não importa, para as pessoas comuns ("comum" em oposição à minoria geek), tirando a utilidade imediata, a importância está em mostrar aos outros. Então o acessório tem que ser (1) bonito e (2) ser reconhecido como símbolo de status, o que está ligado à marca. E mais, embora sendo para pessoas comuns, trata-se de vender para pessoas dispostas a pagar mais para ter um produto que faz a mesma coisa (ou menos, em muitos casos) que a concorrência. A utilidade e o custo/benefício vem depois da aparência e da moda. Adeus classes C e D, pelo menos como as conhecemos hoje. Para ficar claro, as classes C e D terão smartphones, provavelmente com as mesmas funcionalidades, só que com outra grife, outro design, etc.
E por fim, veja que esta estratégia vem dando muito certo. A Apple tem praticamente apenas dois modelos de celular (variando a capacidade de memória, não vou considerar a troca de preto por branco, ou os modelos antigos) , e ainda assim é líder de vendas. Eles tem uma fatia de consumidores que existe porque acredita que é exclusivo. Isso não é exatamente verdade, é gente demais para o significado tradicional do conceito de "exclusivo" (que é algo ou único, ou pelo menos bem limitado, tipo Ferraris e Masseratis), mas eles devem ter percebido o ponto de limite até onde esta ilusão se mantém: basta que um número suficiente de pessoas em volta não tenha, de preferência os que também se vestem pior... Então para proteger sua fatia de consumidores, basta continuar cobrando mais, evitando que todo mundo tenha, e com isso mantendo a ilusão de exclusividade. E aumentar o preço por sua vez também aumenta o lucro por unidade. É genial, mas não foi Steve Jobs que inventou isso, ele só copiou da industria da moda, que se baseia nisso há décadas.
Nada tenho contra objetos simples e bonitos, para mim isso é uma qualidade, embora no caso de equipamentos eu não veja como a qualidade prioritária. Além disso, eu reconheço que para usar em público, a aparência sempre é um fator a se pensar, não preciso estar com griffe mais cara, mas não pode ser tão feio que me faça ter vergonha de tirar do bolso. Também não me preocupa que existam outras pessoas querendo gastar muito mais que o necessário com alguma coisa para ostentar, sempre foi assim.
Na realidade, não adianta ficar contra esta situação descrita acima em nenhum dos aspectos, seria inútil. O que acho útil é fazer a constatação acima: a tendência é a moda dominar. O que fazer com esta informação, ainda não sei... mas ao que parece, mudaram minha praia de lugar.
O lado mais preocupante é que esta tendência não se restringe à Apple, eles só foram os precursores. E o que eles fazem, pelo menos em parte é seguido pelo resto da industria de eletrônica de consumo. Se for verdade, a ditadura da moda veio para ficar. Enquanto isso vá assistindo "O diabo veste Prada" para entender como serão as decisões na área.
segunda-feira, 30 de janeiro de 2012
Assinar:
Postar comentários
(
Atom
)
Nenhum comentário :
Postar um comentário