terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Nokia X: tentando entender a estratégia, ou a falta dela

A Nokia (a parte mobile) foi vendida para a Microsoft no final do ano passado, e eu nem postei nada no blog, até porque não teria muito a acrescentar além do que já tinha escrito há vários anos desde que começou a parceria Nokia-MS. Ou seja, sempre desconfiei que esta era uma grande possibilidade.

Agora a Nokia vem com esse tal "Nokia X", um Android, que é justamente o que eu achava que eles deveriam ter feito na época da decisão de entrar no Windows Phone. E detalhe que eu nem condenava totalmente o Windows, a dúvida era: porque não também Android? Nada impediria a empresa manter as duas linhas, afinal eles basicamente fabricam e vendem hardware, e embarcam o SO próprio ou de terceiros. Fico pensando quando dinheiro a empresa não perdeu por por causa da decisão de apostar tudo no WP (Windows Phone).


Os rumores sobre o Nokia X já estão rolando há pelos menos uns 6 meses que eu saiba. Mas esperei o lançamento antes de tentar concluir alguma coisa. A intenção da Nokia parece ser aproveitar a larga base de apps do Android, e ainda ter uma opção de baixo custo para substituir os Ashas, Symbians e S40s, que a meu ver não tem futuro algum. Nem em mercados emergentes, nem consumidores de baixa renda. O mínimo que alguém vai querer é um Android barato, basicamente por causa dos apps. A Nokia finalmente se rendeu a esta realidade, com as vendas das linhas daqueles sistemas antigos caindo lentamente mas de forma consistente.

O Android tem a vantagem de estar pronto e ser gratuito, e ainda poder rodar os aplicativos já feitos pare ele. Talvez para manter a marca de independência, ou para não parecer inconsistente, a empresa criou para o X uma interface de usuário muito parecida com a do WP. O sistema em si é um fork do Android, sem usar as aplicações e serviços do Google. Em seu lugar serão inseridos os serviços da Nokia de mapas, email, mensagens, fotos, nuvem, musica, etc. Na realidade são 3 modelos inicialmente (X, X+ e XL), sendo que o básico tem a mesma configuração de hardware que o Lumia 520 (por sinal um excelente aparelho custo-benefício, eu tenho um, e a pouca memória de 512 Mb não causa problemas de performance, pelo menos não com o Windows Phone, o que prova que a Microsoft fez um bom trabalho de projeto e otimização neste sistema. O Lumia 520 é plenamente funcional e ainda muito agradável de usar, o que me deixa curioso como ficará o Android customizado na mesma base de hw).

O que chama atenção no entanto é coincidência entre a compra pela Microsoft e o lançamento de um aparelho com um sistema operacional concorrente. Minha primeira suspeita é que, como já mencionei antes em algum outro post, que a Microsoft tenha adquirido a Nokia justamente porque temia que ela começasse a diversificar, ou mesmo tendesse a abandonar o barco do WP. Talvez eles já soubessem do "projeto X" há mais tempo (aliás, a letra X continua em alta para escolher nomes...), o que é muito provável dado que um projeto destes não se faz do dia para a noite, e também que dificilmente a Nokia poderia esconde-lo para sempre de uma empresa parceira, se é que tentou. Outra possibilidade é que tudo isso tenha sido feito com aprovação da própria Microsoft, o que para mim de imediato não faz muito sentido. A partir daqui pode-se especular qualquer coisa, como por exemplo até que ponto o Android seria realmente um concorrente... Mas o fato é que o projeto existia, e provavelmente com conhecimento de todos os envolvidos.

E a outra consideração interessante, que é mencionada no final do artigo do The Verge (link no final, como fonte) é que o Nokia X talvez tenha a mesma sorte do N9. Para quem não lembra, foi o lançamento da Nokia com o sistema Meego, o sucessor do N900-Maemo, logo depois da Nokia fazer o acordo com a Microsoft e anunciar que focaria amenas no WP. Então que sentido teria lançarem o N9 depois disso? A explicação seria que todo o investimento, desenvolvimento, linha de montagem, contratos de fornecimento de peças e etc já estavam prontos, e não se podia simplesmente abortar tudo. Acabou que o N9 foi lançado, com críticas muito positivas, mas lamentavelmente todos sabiam que não tinha futuro, por falta de um ecossistema e vontade da empresa que o fabricava de incentivá-lo. O Meego talvez tenha sido a melhor chance que a Nokia teve de continuar controlando seu próprio sistema, e na minha opinião, foi um erro ter sido simplesmente encerrado. O ideal seria mantê-lo como uma terceira linha, ao lado do WP e do Android, jogando os antigos fora (Symbian e S40).

Por esta lógica, o Nokia X foi lançado apenas porque estava pronto, e agora que a MS assumiu o controle vai ser desativado. De qualquer forma, não parece ser um grande investimento tão grande quanto foi o N9, pois o hardware é muito semelhante ao do Lumia 520, e o sistema foi apenas customizado e não desenvolvido do zero. O mais interessante mesmo vai ser se ele começar a vender muito mais que o WP. Será que a Microsoft vai ter coragem de encerrar uma fonte significativa de receita, e uma idéia que parece ser tão promissora? A questão agora é o que a Microsoft vai fazer com o Nokia X.


 Fonte: http://www.theverge.com/2014/2/24/5440498/nokia-x-android-phone-hands-on

[Edit: 17-07-2014: Respondendo à questão do final do artigo, hoje eu li sobre o provável destino do Nokia X,  no site Engadget:
Microsoft will abandon Nokia's Android smartphone project
Ou seja, descontinuar o Nokia X em um futuro próximo. Isto ocorre mesmo depois da segunda geração da linha, a Nokia X2. Segundo outros artigos, um fork desta extensão do Android tende a se tornar inviável.]

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