Em algum momento no passado, os PCs usavam teclados bege padronizados, sem qualquer imposição de um fabricante. Embora o PC original tal como conhecemos tenha origem na IBM, ela não fez praticamente nenhum esforço para impor sua marca na identidade visual do produto, ou na compatibilidade dos periféricos. Mas fez um acordo de sistema operacional com a Microsoft, o que teria consequências imprevistas no futuro. Vários anos depois os teclados continuavam basicamente iguais (mudou do padrão PC-XT para o AT, outras mudanças mínimas), no entanto sem nada específico do fabricante. Estou me referindo à época de ouro dos clones, tanto os de marca (Dell, Compaq, hp, e até IBM) e os xing ling. A diferença entre os teclados até aqui era apenas de qualidade. O fabricante colocava um logo da sua marca, mas não se atrevia a mudar o layout. Até que veio a Microsoft, em algum momento em torno do ano 2000, e incluiu a tecla Windows, aquela entre o ALT e o CTRL, nos seus teclados. E ele rapidamente virou padrão. Na época em que o Windows dominava mais de 95% do mercado de sistemas operacionais para o usuário final (ou seja, de PCs), quem seria contra?
Particularmente nunca me incomodou, mas também nunca me foi útil. Eu sou mais um clicador, eu sempre cliquei no botão Iniciar... Na realidade a tecla Windows pode até atrapalhar em jogos (porque ao abrir o menu Iniciar força alternar para a tela do desktop, saindo temporariamente do jogo, o que pode ser chato ou mesmo "fatal"), motivo pelo qual o teclado em que escrevo no momento, o Logitech G15, tem uma chave para desabilitar a tecla Windows. Mas de fato, passei batido por esta tecla por anos, instalei várias distros linux em que ele não era necessária e não me incomedei, e a tecla Windows ficou tão esquecida quanto a "Scrool Lock", apesar da posição proeminente perto da Space (aliás só agora percebi que o G15 tem duas teclas Windows, uma de cada lado da espaço e dos ALTs! Ambas esquecidas e desabilitadas.). Uma alteração recente no Windows Phone 8.1 me fez lembrar da tecla Windows, e fazer uma comparação.
Corta para 2010 e o lançamento do Windows Phone 7. A Microsoft finalmente se mexe e lança um sistema de smartphone para telas capacitivas. Embaixo os 3 botões capacitivos, fora da tela. O botão Windows é o do meio, entre o "voltar/esc" e o de busca (apesar de em 2010 a MS ainda apenas sonhar em ser uma empresa de buscas, ainda sonham, embora agora com mais consistência). Uma escolha natural. Um bom layout, moderno e funcional. Muito semelhante ao do Android, na realidade, que também tem 3 botões embaixo. Mas que acabou virando desvantagem.
Mas qual o problema se, ao contrário dos teclados de PC, o botão do Windows supostamente deve ser usado apenas pelo sistema WP (Windows Phone)? É que para os fabricantes, antes de usar a peça da tela (na qual por sua vez as teclas capacitivas são integradas) na fabricação de um celular, ela é apenas uma peça em estoque a ser montada em algum produto, não um aparelho completo. E manter estoques, tanto de peças como de produtos prontos, é um custo. E se as vendas de WP foram menores, o estoque acumula. Fabricar duas peças diferentes, uma para WP e outra para Android, também é mais custoso. Logo, ao ter criado o botão Windows no WP, a Microsoft sem querer criou uma dificuldade na adoção do seu sistema. E isso em uma época de concorrência acirrada, na qual estava tentado entrar no mercado, depois dos concorrentes.
Mas a solução para a Microsoft foi dada pela Google. Notem que de uns 2 anos pra cá a Google tem feito estes botões de navegação on-screen. Ou seja, a tela frontal não tem nenhum botão capacitivo separado, é tudo tela. Vide a linha Nexus. O Nexus 4 já é assim, botões na tela. No Nexus S, que eu tive, ainda era separado, e o Galaxy Nexus eu "pulei", mas acho que era separado... enfim, a tendência de design da Google são botões on-screen pr pelo menos uns 2 anos. E isso agora vem totalmente a calhar para a Microsoft. Em um momento em que os fabricantes estão relutando em adotar o Windows Phone, a remoção da necessidade de uma peça especial para o sistema é menos um problema. A Microsoft percebeu isso e vai eliminar este requerimento. E ao lado do corte do preço por unidade das licenças, isso pode dar alguma força ao Windows Phone, que está precisando.
A mudança no sistema para que aceite botões on-screen está prevista para sair na versão 8.1, de acordo com as últimas noticias, como aqui. Claro que nada muda para os dispositivos atuais que já tem os botões, mesmo que faça o update (nem precisava dizer isso, mas estou escrevendo na Web... ). Além disso talvez a Microsoft mantenha os botões separados nos seus dispositivos high-end, para reforçar a marca. Se bem que, na minha opinião, os botões on-screen de qualquer modo dão um visual muito mais legal, além de mudarem com a posição do aparelho, ou pelo contexto (deitam quando se gira a tela, viram pontos para não distrair, etc). Independente da disputa de influencia no mercado, eu percebo botões on-screen como uma melhoria de qualidade.
Outros artigos já falam na proliferação de dispositivos dual boot Android-Windows Phone por conta desta mudança. E ao lado disso temos a própria Microsoft-Nokia fabricando dispositivos Android (o Nokia X). Sinais dos tempos, a Microsoft não tem mais a capacidade de impor a sua marca no mercado que mais importa hoje, e o possível fim do botão capacitivo do Windows pode ser o mais visível de todos. É um bom sinal, gostaria de ver o Windows Phone como uma opção ao Android, já que a concorrência é benéfica ao consumidor, mas vantagens como a imposição de um requisito arbitrário não fazem parte de uma concorrência justa.
Além disso, como interessado em hardware e sistemas operacionais, sonho com um mundo mobile que fosse mais parecido com o que foi o dos PCs, onde no mesmo aparelho pudesse facilmente instalar qualquer sistema de minha preferência, seja Android, Ubuntu, Firefox OS, Windows Phone, Jolla Sainfish, etc., talvez até experimentar todos eles, sem ter que adquirir um dispositivo físico para cada um. Atualmente, dependendo do bootloader ser desbloqueado ou não, mas ainda assim com algum grau de dificuldade geralmente alto, se pode conseguir fazer conversões dos sistemas para outros dispositivos, geralmente não totalmente funcionais, e esbarrando em drivers proprietarios.
Fonte:
http://www.extremetech.com/computing/176420-windows-phone-8-1-sdk-reveals-universal-cross-platform-apps-on-screen-buttons-more
[Edit 26/06/2014: confirmando a notícia acima, os Lumias 630 e o 635 já virão sem os botões capacitivos. Os botões na tela permitem a outros fabricantes adaptarem facilmente o Windows Phone em um hardware para o Android. Aliás, permite à própria Nokia, que também faz a linha Nokia X e X2 com Android... E seria o fim do "botão windows" nos smartphones. ]
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