sábado, 19 de abril de 2014

Ubuntu One: Menos um serviço de armazenamento na nuvem

O Ubuntu One, serviço de armazenamento de arquivos em nuvem da Canonical, vai fechar, conforme anúncio no site oficial. O prazo é primeiro de junho, sendo que até 31 de julho para retirar os arquivos. O serviço de vendas de músicas online também será descontinuado. Passei algumas horas fazendo a transferência dos meus arquivos pessoais, e depois até já cancelei a conta. Muitos deles eu não tinha cópia local, o que me leva a pensar o quanto ficamos dependentes destes serviços, e em tão pouco tempo passamos a confiar neles. Recebi a notícia como tristeza, pois o Ubuntu hoje ainda é minha distribuição preferencial para uso genérico, e fui usuário do One desde o início. Mas sempre fui um usuário não pagante.

Isso nos leva ao segundo ponto, o motivo alegado pela Canonical para descontinuar o Ubuntu One é financeiro, o serviço não se pagava e não tinha como competir com Google, Microsoft e etc. Mais detalhes sobre as explicações neste outro post da empresa. Isso também nos lembra a regra de que "não existe almoço grátis". Se a Microsoft e a Google estão nos fornecendo dezenas de gigabytes "gratuitamente", na realidade já paguei e continuo pagando cópias de Windows, do Windows Mobile, do Windows Phone (que deve virar free também, mas se trata de um reajuste de modelo de negócios e a grana vai sair de outro lugar), de Androids (que tem um custo para o fabricante, para licenciar os apps da Google, obviamente repassado ao consumidor), lendo propagandas, comprando coisas nas respectivas lojas online, e por aí vai. Não é grátis, está sendo subsidiado por outras receitas geradas pelos consumidores. É um ecossistema no qual o consumidor está na base da "cadeia alimentar", dando sustentação a tudo, de uma forma ou de outra. E quando a conta não fecha, a solução mais correta é esta mesmo, tomar logo a decisão e preservar a saúde financeira da empresa.

Os serviços da MS e do Google não creio que tenham perigo de acabar em algum momento próximo ou que se possa prever. Mas no longo prazo nada está 100% certo. O que me faz imaginar os problemas de um mundo em que só existissem dados de usuários na nuvem, a complicação de exportar diretamente de um serviço para outro, sem passar por download local  (hoje nem existe esta opção de transferência direta, por exemplo, do Ubuntu One para o Google Drive por exemplo).  Atualmente a maioria das pessoas ainda tem um desktop ou notebook com capacidade para fazer o download. Mas isso está mudando. Imagine alguém que só possui um tablet com 32 GB de armazenamento flash, mas tem 500 GB na nuvem, e o serviço anuncia que  vai fechar. Ok, não é comum hoje, mas os tablets estão se popularizando, e os Chromebooks também.

Mas fica a dúvida de se, ou como, a Canonical vai disponibilizar algum serviço de nuvem para o smartphone com Ubuntu que ainda planeja lançar. Pois como no exemplo do tablet acima, que tem um smartphone ou tablet rapidamente aprende que é mais prático guardar as coisas na nuvem. A sincronização de dados é transparente e nem sempre a pessoa se dá conta que está usando um "drive na nuvem". Exemplo são os dados de contatos, da agenda e das fotos do Android. Sem o Ubuntu One, a Canonical teria que abrir outro serviço, ou fazer acordo com alguma outra empresa.  Ou depender de terceiros para espontaneamente fornecer apps de armazenamento, como um do Skydrive ou Google Drive. Desta forma, perdendo controle sobre uma parte importante do negócio de ter uma plataforma mobile, e de uma potencial fonte de renda. Na verdade aos poucos , estou vendo os serviços de nuvem (email, mapas, armazenamento, musicas, etc) cada vez mais relevantes que o próprio sistema operacional.

E teve quem visse o lado bom disso, como neste artigo do site techrights.org, em que se destaca que com o shutdown do One, o Ubuntu vai passar a respeitar mais a privacidade dos usuários, ficando mais de acordo com as opiniões de Richard Stallman, que sempre foi um crítico deste tipo de serviço. De fato, não lembro exatamente as palavras usadas, mas uma das preocupações dele é que "com o uso cada vez maior do armazenamento na nuvem, talvez em algum momento não haja mais outra alternativa" (ou seja, local, HDs, CDs, pendrives e etc). E que nunca mais seus dados sejam seus. As "paranoias" de Stallman são sempre para mim um referencial a não se perder de vista.

Fonte:
https://one.ubuntu.com/services/shutdown/
e
http://blog.canonical.com/2014/04/02/shutting-down-ubuntu-one-file-services/


Um comentário :

  1. Armazenamento na nuvem. Isso me remete à expressão "andar com a cabeça nas nuvens" que, ao que tudo indica, muda de sentido.

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