sexta-feira, 18 de julho de 2014

A batallha dos assistentes pessoais inteligentes

A área de TI tem a característica de conseguir alcançar e até superar a ficção cientifica, ao contrário de outros setores da tecnologia, digamos, mais lentos. Temos filmes de ficção antigos que já previam para o ano 2000 viagens interplanetárias ou intergalácticas como algo comum, sem falar das cidades povoadas de automóveis voadores. Bom, 2000 passou batido e estamos presos aos motores de combustão terrestres, e já faz décadas que um humano saiu de órbita da Terra para pisar em outro solo (e paramos na Lua, que decepção, nem sequer é outro planeta). Já na área de computação, poucos filmes mostraram toda a extensão do progresso que já temos hoje, que nem era esperado ou imaginado. A parte de inteligência artificial é uma sub-área da informática que, ao contrário, ainda está muito atrás da ficção. Computadores já ganham de mestres do xadrez, mas estamos longe de termos uma consciência como a de HAL.  Mas associado a isto, tem um item recorrente da ficção, aquele computador que interage com humanos em linguagem natural, que foi aos poucos e sem alarde se tornando realidade. E já está funcional atualmente, ao alcance do consumidor comum.

Veja por exemplo aquela cena comum de Star Trek, o capitão ou outro oficial qualquer fazendo uma pergunta em linguagem natural ao computador da nave, e sendo respondido ou atendido. Neste seriado em particular, nada indica que o computador tenha uma consciência, vontade, sentimentos,  uma inteligência próxima a de humanos. Ele apenas responde funcionalmente à linguagem natural, a comandos de voz. Bom, isso já temos atualmente, em celulares e em carros. Esta interação por voz faz parte do que se está sendo chamando atualmente de assistentes pessoais inteligentes. Ver a definição neste artigo da Wikipedia. Não confundir com outros termos parecidos em tecnologia, como o PDA (personal digital assistant), aquele computador de mão pré-smartphone. Dando nomes, estamos falando aqui de Siri,  Google Now e Cortana (introduzidos no mercado nesta ordem).


Quando surgiu, o(a?) Siri me pareceu apenas uma curiosidade, mais uma sofisticação da Apple para justificar produtos mais caros. Mas quando passei eu mesmo a usar os assistentes pessoais (não no Siri, mas o Google Now e "a" Cortana (*)) , interagindo no dia-a-dia, minha opinião mudou, tanto quanto à utilidade, quanto com relação ao impacto de mercado, especialmente a  fidelização de usuários e oportunidades no negócio da propaganda.

O que afinal é um assistente pessoal inteligente, e qual sua relevância? Basicamente é um sistema baseado em em nuvem, recolhendo todos os dados sobre você, associados à sua conta (por exemplo, a conta do Google), associando seus contatos, suas rotas, suas localizações, suas datas (aniversários, etc), suas buscas na web, seus clicks, e em troca oferecendo informações, sugestões, dicas, avisos. Sobre o clima, transito, opções de de entretenimento. O sistema ainda conta com toda a Web indexada no mundo e o mecanismo de busca integrado (Google ou Bing, por exemplo) para varrê-la, bem como os mapas e demais recursos, para buscar o que pode lhe interessar. Ao lado disso, todos os assistentes pessoais atuais tem uma interface de voz, e interpretam comandos e perguntas simples. Com o tempo, o assistente pessoal aprende cada vez mais sobre você, e faz indicações cada vez mais precisas e relevantes. O importante aqui é lembrar que não se trata de um dispositivo físico, ele não reside no seu smartphone, é uma entidade que vive na nuvem, se alimentando dos dados da sua conta e da Web. E como disse antes, até o momento não se trata de uma IA propriamente dita, e sim de um mecanismo mais ou menos esperto para entregar certas informações proativamente e em tempo real.

Quanto à utilidade, é reconfortante abrir uma unica tela de manhã no smartphone  e ver o clima, as condições do transito até o trabalho, estimativa de tempo para chegar, as principais notícias, com base no que lhe interessa. Claro que alguma influencia dos anunciantes é esperada, mas é uma troca, em que os dois (ou três, o anunciante, o veiculador e você)  lados podem ganhar. E existe também o lado puramente lúdico, como as previsões dos jogos da Copa 2014, no qual Cortana se deu tão bem! (na imagem abaixo, a previsão do fatídico jogo do Brasil versus Alemanha, printscreen tirado de manhã, umas 8 horas de antecedência, só não podia prever o placar). É uma questão de costume, mas também pode ser interessante abrir o assistente no final do expediente de trabalho e ver os filmes, bares, restaurantes, eventos culturais que estejam ocorrendo nas redondezas. As possibilidades são infinitas.

Sobre a fidelização do usuários, vejo dois aspectos. O primeiro é que  uma vez que uma pessoa se acostuma com algum sistema, tende a continuar com ele, desde que relativamente satisfeito. Ainda mais um sistema que tem esta proposta de ser pessoal, ter uma voz e um nome, etc. A segunda é que para ser eficiente, ele requer tempo para captar as informações sobre o usuário. Então aquele assistente que você usa há muito tempo será mais efetivo do que um outro que você usa há uma semana, supondo que os dois sejam bem implementados. Com isso, o assistente pessoal se torna um item importante dentro do ecossistema da plataforma em que ele está inserido, Android, Windows Phone, etc.

Fico imaginando um cenário em que o usuário se acostume tanto com a facilidade destes assistentes, que os apps específicos de informação acabem ficando menos importantes. Hoje possuir uma loja online de aplicativos é um dos principais fatores de sucesso de um sistema operacional, mas isso tende a virar commodity, e todos os sistemas (que sobreviverem) provavelmente terão sua loja repleta de apps, com versões dos mesmos aplicativos (hoje os principais apps estão na loja Apple e do Android, e em  menor parte também na da Microsoft). Quem sabe um dia ter o melhor assistente pessoal se torne o diferencial?

(*) Obs: para ter acesso à Cortana no Lumia 520 desde junho deste ano, tive que habilitar o Developer Preview, para poder baixar o Windows Phone 8.1 antes do lançamento oficial, e passar todas as configurações de linguagem para inglês e de localização para Estados Unidos. Não existe atualmente versão para português. E os comandos de voz e perguntas tem que ser em inglês também, e com o sotaque correto.

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