segunda-feira, 16 de maio de 2011

O que acontece com os desenvolvedores mais velhos?

Recebi ontem pelo twitter um link sobre como desenvolvedores "velhos" podem sobreviver no mercado. E por velho aqui estamos falando 30 anos... Durante mais de um terço da minha vida profissional em TI minha função foi desenvolvedor. Entendendo por "desenvolvedor" a pessoa responsável por projetar e escrever código, o que os americanos também chamam ainda de programador ou coder, mas aqui no Brasil esses termos tem tão pouco prestígio que foram quase banidos. E durante todo este tempo, realmente trabalhei com poucos colegas com mais de 30 anos. Havia algumas exceções, mas em geral a faixa de idade é entre 20 e 30.  Vivemos no capitalismo, e se um recém formado pode fazer a mesma tarefa por menos, a substituição é quase inevitável. Mas sempre fiquei pensando no que acontece com todas as pessoas que saem deste mercado por causa da idade. Não dá para todos irem para uma carreira executiva, e trocar totalmente de área pode ser traumático. O artigo que recebi no twitter, no link a seguir, dá umas dicas que um desenvolvedor, que queira realmente continuar como tal, poderia tentar:

http://www.exampler.com/blog/2010/05/10/old-programmers/

(Existe uma tradução em um site brasileiro, mas está tão ruim que não recomendo). Me chama a atenção o último ponto, cobrar menos pelo fato de ser mais velho, na suposição que a produtividade também será menor. Seria verdade? Infelizmente, nesse esquema em que a maioria dos desenvolvedores trabalha, eu teria que concordar que sim. A memória de curto prazo e agilidade para aprender novas tecnologias diminui na maioria das pessoas, embora não tão rápido como se é levado a crer pelo mercado. Ou seja, com 40 ou 50 anos o déficit  de memória de curto prazo e concentração seria plenamente aceitável em um ambiente de trabalho digamos, saudável, e seria compensado por outras habilidades até mais valiosas.

Mas o que se espera de um desenvolvedor na maioria dos casos é, como dito no artigo, pessoas trabalhando por mais de 10 horas por dia, as vezes virando noites, aprendendo linguagens e tecnologias de um dia para a outro. Nem é esperado que aprenda direito ou se domine uma tecnologia, basta o suficiente para dar alguma solução, entregar alguma coisa rápido, mesmo que em detrimento da qualidade e da robustez.  Por outro lado, o que se ganharia (mas nem isso acaba acontecendo) com o tempo e a experiência, que em resumo é a capacidade de fazer produtos de melhor qualidade, evitando os erros comuns, não é valorizado no mercado. Então é realmente compreensível que alguém com 33 anos, como é o caso citado no artigo, já esteja muito preocupado e pensando em mudar de área.  Trabalhar desse jeito realmente exige mais do corpo e da mente, e exige que a pessoa esteja disposta a se submeter a isso. E com o tempo acho que a tendência é se desiludir e perder a paciência com esse tipo de coisa.

Aqui no Brasil ainda existe o agravante do cargo de desenvolvedor ter se tornado muitas vezes um sub-emprego sem direito nenhum, pela contratação como PJ. Quer dizer, uma pessoa que trabalha anos a fio em expediente integral na mesma empresa, mas não tem contrato de trabalho com ninguém a não ser sua própria empresa fictícia, que geralmente é o próprio e mais um parente que tem 1% de participação e não sabe nada do que se passa. E sem os direitos trabalhistas e etc. Não que eu concorde com a CLT tal como é hoje, tinha que mudar muito na minha opinião. Mas não ter sequer um contrato formal de trabalho sim  que simplesmente reflita a realidade, acho aviltante. Claro que não sou contra alguém ser consultor independente, desde que realmente atue assim, em contratos temporários de curto prazo baseados em projetos específicos, ou em tempo parcial, vários clientes, etc. Dedicar anos em tempo integral a uma única empresa e ainda se achar consultor é ilusão.

Tudo isso me leva a pensar também em porque alguém iria afinal querer ficar na área de desenvolvimento! Quero dizer,  trabalhando nas condições descritas acima, desnecessariamente adversas. Pois também existem as exceções de empregos, os locais mais saudáveis, que valorizam experiência, a criatividade, os fundamentos de engenharia de software, a qualidade do produto, e outras habilidades mais nobres que capacidade de memorização e de ficar noites sem dormir tomando café, red bull e etc.

Pessoalmente, nunca me apeguei ao cargo de desenvolvedor, apesar de também nunca ter saído da área de TI. Já passei por desenvolvimento, análise, adminstração de dados e de bancos de dados, administração de redes, infra-estrutura, suporte a usuário, e neste exato momento, por acaso estou no desenvolvimento "em tempo parcial", ou seja, mexer com código não ocupa 100% da jornada de trabalho. Na realidade, não ocupa nem 25% ... mas seja lá como for,  consegui ser desenvolvedor aos 44 anos no mundo de hoje, o que aparentemente é um grande feito... :-)

Acho que se apegar a uma função muito específica é parte de problema. A outra parte é acreditar que apenas saber uma linguagem (ou muitas, não importa) e conseguir utilizá-la para codificar regras de negócio em sistemas de informação é realmente uma habilidade de muito valor, como o mercado as vezes leva a pensar que seja. E no fundo não é mesmo. A maior  parte das tarefas em um projeto  de sistemas de informação pode ser feita por recém formados. O valor alto da hora paga não é por causa do valor da especialização, e sim pelo desenvolvedor estar disposto a se submeter a qualquer condição de trabalho e por saber as tecnologias A, B ou C que são muito necessárias no momento, e deixarão de ser talvez daqui a dois ou três anos. De novo, nada contra esta opção. Mas quem está sendo pago por essas duas coisas, deve estar preparado para correr atrás das novas linguagens que estarão em alta daqui a algum tempo, e continuar a trabalhar em qualquer condição.

Então talvez mudar, sair da zona de conforto e aprender uma área nova, dentro de TI ou não, seja a uma alternativa bem razoável.

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