segunda-feira, 30 de maio de 2011

Review: Daemon, de Daniel Suarez

Este blog é sobre TI e não reviews de ficção científica. Mas este livro também não é um livro de ficção comum e tem tudo a ver com TI: "Daemon", de Daniel Suarez, é um livro de ficção mas com tecnologias reais e já existentes. A maioria delas é associada diretamente à TI, e citadas quase sempre de forma muito coerente (o que também é incomum). Isto porque o autor também é profissional de TI! O termo "daemon" se refere a um tipo de programa em Unix/linux que roda em background. Pelo que se conta os engenheiros do Unix escolheram a palavra "daemon" de propósito, com o significado de seres que trabalham continuamente em background, e depois se adaptou um acrônimo para ela ("Disk And Execution MONitor"). Mas a palavra também significa demônio em inglês, o que dá a conotação diabólica de como a tecnologia é utilizada na estória. A escolha do título foi genial.

O livro pode ser vagamente correlacionado com outras obras nas quais a humanidade é subjulgada pela tecnologia, como Matrix ou BattleStar Gallactica. A diferença é que a tecnologia aqui não é do futuro nem de outros planetas, são coisas que já existem, até triviais hoje em dia: bancos de dados relacionais, sistemas de respostas planejadas, scripts de servidores, redes TCP-IP, celulares, GPS, cavalos de tróia, backdoors, e muito jogo FPS e MMORPG. Tudo isso costurado para manter viva a vontade de um homem mesmo após a sua morte, influenciando a realidade concreta e as pessoas. Exatamente como e porque, só lendo o livro.

É tudo assustadoramente realista. A única licença artística aqui é a propensão dos sistemas criados de funcionarem perfeitamente como planejado. E quem trabalha em TI sabe que náo é bem assim! (ele tem uma explicação para isso na entrevista abaixo). Além da tecnologia, achei bem razoável a análise psicologica das pessoas em resposta às situações criadas: medo, inveja, egoismo, ganância, luxuria e etc, são explorados pelo autor para traçar um quadro completo de como o ser humano vai entrando na armadilha, e quando vê já é tarde ...

É tudo tão plausível que pela primeira vez em um livro de ficção me peguei tentando achar motivos pelos quais aquilo não daria certo, ou pelo menos não tão certo. Acabei achando uns quatro motivos mais ou menos bons. Não vou dizer aqui para não correr o risco de influenciar algum possível  leitor. Um deles é meu favorito, e me deixou mais tranquilo ... Mas não totalmente. A possibilidade de ocorrer é uma desgraça dessas é razoável. O que já não acho tão fácil é a desgraça se perpetuar indefinidamente e de forma cada vez mais implacável... mas deixo para cada um decidir. De qualquer modo o leitor mais cético possível vai perceber diversas situações que mostram como as tecnologias que são a base da economia, ou da própria civilização, tem muitas fragilidades. Como diz o autor, o espaço virtual tende a ser tão militarmente relevante quanto a terra, o mar e o ar. Algum dia talvez tenhamos uma força armada apropriada para ele, tal como temos a marinha, exército e aeronáutica...

A propósito, parece que o livro será lançado em filme em 2012. Como aparentemenre qualquer coisa feita nos EUA, o livro tem seus trechos de ação, sexo, intrigas e muitas reviravoltas na trama, o que o torna diversão garantida e facilmente adaptável ao cinema, com quase nenhuma mudança. Só espero que seja executado como merece. Além disso já foi publicada a continuação, cujo título original é "Freedom", mas não achei ainda versão aqui no Brasil. Pelo que vi em entrevista do autor no GoogleTechTalks, isso fecha a estória. Estou esperando. Veja a entrevista no fim do post.

Opinião: acho que vale a pena ler, pela originalidade do argumento e pela diversão. Quem estiver sem tempo pode esperar pelo filme, mas já não garanto que será tão bom.
Dados: Editora Planeta; tradução para português (bem razoável também); 431 páginas.
Página oficial do autor: http://thedaemon.com/


Observação (quase) nada a ver: Alguém aí lembra do "Daemon Tools"? Nunca mais usei... :-) Uma tecnologia está fadada a cair no esquecimento quando uma outra que é feita para emulá-la também já caiu antes... :-)

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